O evento chamado Hackatur, tempo das águas,
vem com a proposta de procurar e propor soluções para problemas, uns bem
antigos como esse do turismo de Alter do Chão. O turismo de Alter só é movimentado quando o sol brilha e as
praias convidam. O evento Hackatur propõe de enxergar o turismo de Alter
de uma nova maneira. O Hackatur aconteceu no dia 25 de Maio de 2024 no Hotel
Mirante da Ilha e foi organizado pelo Ivo Oliveira, empreendedor no ramo da
hotelaria e pousadas, e sua equipe. A proposta se inspira nos eventos Hackaton que
procuram buscar ideias e soluções
inovadoras para um problema que se estende há anos e com isso prometem de reposicionar
Alter com um destino turístico com movimento no ano todo.
Hackatur uma
modalidade de Hackathon
Hackaton,
palavra inglesa composta de hack (programar) e thon de marathon (maratona)
descreve uma nova modalidade de resolver qualquer desafio proposto. Participa
da ideia que um grupo de pessoas, respetivo os seus cérebros, conseguem
competir numa dinâmica com local e duração predeterminados. Funciona como uma
grande tempestade de cérebros (brainstorm) que permite gerar insights e
soluções inovadoras. Normalmente tem um grande prémio para o grupo vencedor.
Como Ivo Oliveiro veio de uma carreira na tecnologia antes de se envolver com
turismo na vila, ele tinha facilidade de adaptar essa modalidade às
necessidades locais.
As águas
altas? Potencial turístico gigante inexplorado
Quem diz que precisa
lamentar para sempre? Chega de “é assim mesmo” foi o que Ivo Oliveira,
empreendedor no ramo do turismo pensou e arregaçou as mangas. O primeiro passo
foi uma troca de nome. A famigerada baixa estação agora se chamará muito mais
palpável de “Tempos das águas”! O segundo passo? Procurar soluções inovadoras
que provem que o turismo da vila pode prosperar o ano todo. Ou nas palavras do
Ivo:
"Vamos mudar o Mundo ao nosso redor Temos
levado Alter para outro patamar, onde olhem para nossa região com respeito e
admiração , com preocupação e atenção com o que precisamos para nossa
comunidade. Sou do Time "dos que fazem'',
dos que vão para além das falas, dos que movem foco e pessoas para resolução de
problemas reais de nossa comunidade, se nossa cidade."
Todo mundo que vive
de turismo em Alter sabe, movimento mesmo só há quando as praias aparecem e as
chuvas param. Para quem aposta no turismo isso gera um problema gigante.
Demitam-se funcionários, fecha-se a barraca e o restaurante e quem vive de
passeios se vira com outros trabalhos. Quem não consegue poupar na alta, sofre
demais nesses tempos de baixo fluxo de turistas. E aqui vem o desafio. O
turismo de Alter precisa se reposicionar. Enxergar além, sair da mesmice e
criar um novo olhar, criar atrações, criar um movimento que permite transformar
a vila num lugar onde o turismo prospera o ano todo. Eis o desafio proposto
para os participantes, divididos em 8 grupos que somaram no total 44 pessoas,
18 deles moradores da vila, os outros tinham vindo de Santarém. Participaram
profissionais de muitas áreas. Estudantes de computação, publicitários/as,
fotógrafos/as, economista e formados em ecologia.
Propostas mais tecnológicas e
outras mais pragmáticas
Um dia intenso e
inspirador de trabalho, o tempo era bem estruturado e delimitado resultou no
final em 8 propostas. Cada time tinha exatamente 7 minutos para apresentar sua
proposta e ser avaliada. As propostas, uns mais tecnológicas, outras nem tanto,
concorreram todos aos 3 prêmios. A apresentação e a premiação foram públicas.
Toda comunidade estava convidada a apreciar, julgar e prestigiar as 8
apresentações e a entrega dos prêmios.
Denominador comum de
todos os projetos era que qualquer visitante que vem de fora, um turista em
potencial, enxergaria inúmeras belezas em todas as estações e meses do ano. O
que falta é fazer o devido marketing. Já pensou viver essa linda Amazônia
assistindo uma chuva torrencial e o frescor que ela traz, enfim qualquer um
sabe que a floresta tropical é tão exuberante porque sempre chove lá. Todos os
grupos, formados por jovens da região, concordaram que as redes sociais são o
lugar perfeito onde as pessoas se informam. Concluído isso, todos compartilham
a observação que Alter só tinha que ganhar se todos os serviços oferecidos ao
turista se unissem. Alter precisaria se vender não individualmente, um
concorrendo contra o outro, mas alcançaria todo o seu potencial somente no
coletivo. Dessa maneira umas propostas sugeriam de desenvolver um site ou um
aplicativo onde os turistas enxergariam com um olhar só o que pode ser feito
nesse balneário paradisíaco, tudo além de passeios e da praia. Poderia aumentar
as trilhas patrocinadas e fidelizar o cliente. Uns sugeriam de vender pacotes
personalizados, tours guiados, e até sugeriram que o turista poderia já no
lugar onde mora fazer a reserva do passeio e pagar, tudo on-line. Uns constataram
que ainda deve se melhorar o acesso às informações sobre os eventos e atrações
na vila, por exemplo, falta um calendário dos eventos na vila.
O grupo vencedor apostou em eventos culturais e esportivos, especialmente direcionado para esportes aquáticos e de praia como kitesurf, wakeboard e stand up paddle. Eventos estrategicamente posicionados nos meses com movimento mais fraco. Propuseram, por exemplo, modalidades de caiaque com aluguel e oficinas de caiaque. Além disso, pensaram numa vila gastronômica que funcionaria nos fins de semana e eventos culturais que também deveriam envolver toda a comunidade indígena com passeios e convívio, tipo imersão na aldeia, um verdadeiro intercambio cultural.
Sugestões e críticas
Um dos critérios de
avaliação foi de que o projeto tinha que ser sustentável. Dessa maneira será dando ênfase também em soluções e
destinos para todo o lixo que esse tipo de evento produz. O novo marco de
saneamento é muito claro, cada um é responsável pelo lixo que produz e
sustentabilidade é a chave para qualquer turismo que quer ter futuro. Outro
critério foi que a proposta deveria se ancorar na comunidade. E nesse sentido
veio a crítica construtiva que todo esse foco em tecnologia deixa de fora uma
parte da população que tem muito a contribuir, mas ainda não está
suficientemente familiarizada com a tecnologia e as exigências visuais. Além
disso, Claudio Ferreira, educador e mestre de cultura popular lembrou:
"Se você não entende o povo como você vai fazer
um projeto para o povo? E lembro que aqui sempre é bom ter um plano B na manga.
Exatamente quando toda a tecnologia dá pau."
A vila e com ela o turismo da vila estão
caminhando. E a boa notícia - parece que mais do
que um dos projetos propostos será colocado em prática, claro com adaptações. Estamos
vendo aqui uma semente sendo plantada, igual a essa quando 27 anos atrás um grupo da vila tinha
a ideia de criar o festival dos Botos que hoje é parte integral da festa do
Sairé. Dessa maneira o turismo de Alter logo,
logo nos brindará com novidades. Junto veio, por exemplo, o desejo expresso
da comunidade de dar continuidade e ressuscitar o lindo festival Borari que
infelizmente não acontece mais. O turismo de Alter está caminhando.