O BOTO - Alter do Chão
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Saneamento básico - "Alter é diferente"

Saneamento básico - "Alter é diferente"
Susan Gerber-Barata
mar. 12 - 12 min de leitura
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"Alter é diferente." 

Será que a frase resume, uma vez a mais, o clima que paira no ar na reunião sobre o saneamento básico, convocada pela COSNAPA, dia 3 de Março do ano 2020 na escola da floresta? Alter do Chão será contemplado com um projeto de saneamento básico tão ambicioso quanto necessário, orçado em R$ 52 milhões. A reunião foi agendada com o fim de integrar governo, o conselho gestor da APA e a comunidade e mostrar transparência com um projeto grande, o único aprovado pela toda a região Norte. Alter do Chão está na mira. Querendo ou não, já é o polo turístico mais importante do estado e crescerá ainda mais. Trilha, lentamente, mas com consistência, em direção ao progresso. Melhorias em infraestrutura são passos decisivos nesse caminho. Saneamento, direito assegurado pela constituição, não só preserve o meio ambiente como também melhora as condições da população e também é um indicador importante de desenvolvimento humano, um número que mede o bem-estar físico, mental ou social de uma população. O projeto do saneamento, ainda em fase de pré-projeto, prevê que Alter do Chão receberá conforme a proposta, três subestações de coleta de esgoto e uma estação de tratamento do mesmo. O esgoto tratado, a eficiência de tratamento é entre 95 e 98%, será devolvido diretamente a correnteza do rio Tapajós através de um emissário submarino gigante de 5 km. A implantação do projeto, uma vez aprovado, durará 24 meses. 

 

Andar no fio da navalha

O sr. Laudeco resuma o clima da vila com propriedade:

A comunidade está muito ansiosa. A história da COSANPA na vila é muito negativa. Foram cometidos muitos erros no passado e a vila fica com um pé atrás. Além disso, estamos num ano eleitoral.... .   

Mas o mesmo sr. Laudeco não esquece de enfatizar que o saneamento em si é muito bem vindo sim! Só pede mais tempo para a vila se organizar. As dúvidas são muitas e a hora é essa de expô-las e tirá-las. E pede para calibrar muito bem os interesses individuais de cada um dos envolvidos com o interesse comum.  E interesse comum não falta. Quem tem olhos sabe que ainda tem muita água cinza jogada direta na rua e muita fossa pertíssimo do poço cuja água se bebe na mesma casa. Nem falar das águas de inúmeras piscinas que estão esvaziadas semanalmente diretamente nas mesmas ruas, cavando fundo. E infelizmente não todos estão achando isso errado. Alter sofre com um vazio deixado pelo poder público, difícil de ser reconquistado novamente. Dessa maneira por enquanto prevalece na vila a ambivalência e o preconceito contra tudo que vem de cima, do estado, sendo implementado de maneira autoritária, mesmo com cuidados e preliminares que parecem nesse caso ser diferentes. A COSANPA procura, por exemplo, com urgência um conselho com respaldo na comunidade, independente e competente, que pode acompanhar de muito perto a implantação do esgoto na vila.

 

Saneamento um direito e um bem de todos!

O que está em jogo é o bem de todos. Entenda-se no Brasil o saneamento básico com um direito assegurado pela constituição que abrange um conjunto de serviços como infraestrutura, abastecimento de água e esgotamento sanitário, limpeza urbana, drenagem urbana, manejo de resíduos sólidos e de águas pluviais. A presença maciça de dirigentes envolvidos do lado governamental e da prefeitura na reunião mostra que se sabe muito bem da importância do projeto.

"O crescimento rápido de Alter do Chão assusta. Assusta o poder público e as necessidades precisam ser atendidas com atenção redobrada."

Daniel Simões, Secretaria Municipal de Infraestrutura expressa o cuidado dos quais que são diretamente envolvidos. O projeto do saneamento exige, como qualquer projeto de infra-estrutura, a cooperação de muitos agentes e departamentos. O Brasil aprovou recentemente uma nova lei de saneamento básico. O mesmo engloba agora, além de abastecimento de água potável e a coleta e o tratamento de esgoto,  também limpeza urbana e redução e reciclagem de lixo. Começa a se impor um cuidado com o meio-ambiente redobrado. Um fator extremamente positivo para uma vila que explora as suas belezas naturais e depende de sustentabilidade. A mesma lei prevê, um ponto muito polêmico e político, o fim do monopólio dos estaduais e a abertura para a participação privada para prestadores desses serviços através de licitações públicas. Para alguém que vê o estado como grande provedor, todas as luzes estão acesas e o relógio da conta de água está disparando. 

Rodrigo Silva da UFOPA, representando a universidade pública, bate na mesma tecla de unir forças, colocando a universidade e todo o seu saber a disposição da comunidade:

Temos que levar em conta que em projetos desse tamanho muitos órgãos públicos estão envolvidos. Estou aqui representando a UFOPA e gostaria de enfatizar que a universidade está com toda a sua competência a disposição da sociedade.  

A UFOPA já possui um acordo de cooperação técnica com a COSANPA para análise de qualidade de águas e desta forma é possível que a COSANPA solicite apoio técnico na próxima fase do projeto, a fase executiva. 

 

Habilidade de conduta exigida

De qualquer jeito - agora é para valer! Tudo acontecerá de uma vez só. Alter do Chão não só será contemplada, enfim, com um microssistema melhor que trará água encanado potável e de qualidade para a vila, executado pela mesma COSANPA, orçado em mais de R$ 16 milhões. Paralelamente também será colocado em prática o sistema de coleta e tratamento do esgoto. A implementação dos dois sistemas, da água e do esgoto, um independente do outro, preciso cuidado e habilidade. A vila recebe muitos turistas cujo fluxo não pode ser interrompido por ruas e travessas em obras, lama para todo lado etc.. Ninguém mente - o progresso exigirá um preço, mas as recompensas não tardarão a chegar:  Doenças e mortes evitados, imóveis com esgoto irão se valorizar, o ambiente e os lenções freáticos serão preservados e os rios enfim despoluídos. Aguardam a ser aplicados, além disso, três quilômetros de asfalto, já reservados para Alter do Chão. Ai surgem mais dúvidas. Os dois sistemas, água e esgoto, podem e devem ser implementados de uma vez só? Podem ser colocados em ruas sem asfalto? Junto com o problema do asfaltamento vem a preocupação redobrada não só com o aquecimento da vila, mas também com o assoreamento dos lagos da vila, não só do lago verde mas também do lago Carauari que aos poucos correm risco de ser aterrados. E como um passa leva ao próximo - já que é para pensar grande - que tal colocar por baixo da terra não só esgoto, mas também galerias pluviais, linhas telefônicas, fibra ótica, eletricidade e muito mais que fazem parte de cidades civilizadas? 

 

Detalhes do projeto do saneamento

Ao lavar as mãos, a louça ou roupa, tomar banho e usar a descarga do vaso sanitário, todos nós estamos produzindo constantemente esgoto. E esse esgoto vai para onde mesmo? Pará é o penúltimo estado em saneamento com 5 % da população atendida! Em Santarém parece que o número já subiu com os investimentos recentes para 25% de esgoto tratado. Mesmo assim são números assustadores. Tanta diarreia e hepatite, diretamente ligadas a água e saneamento, que podem ser evitadas. Saneamento, uma vez implementado, valoriza o lugar, uma vila, um imóvel, além de é sempre melhor prevenir do que remediar. Quem reclama do relógio que dispara, deve levar em conta que a sua vida melhorará, despesas com remédios, diarreias, até mortes serão evitados, além que evita que córregos, rios e mares sejam preservados.
No caso específico do saneamento a ser implementado em Alter é o Ministério de desenvolvimento regional que dá os prazos não a COSANPA. Até final do março tem que ser aprovado por motivos maiores de prazo da Caixa Econômica para o pré-projeto. Uma vez aprovado, o projeto tem 24 meses para ser implantado. A primeira fase de duração mais ou menos um ano, será da elaboração de um projeto executivo que expõe muito mais detalhado o projeto aprovado. Propostas são três estações elevatórias, uma estação de tratamento, 27 quilômetros de rede de esgoto e 1.035 ligações domiciliares. Os recursos são oriundos do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS).
Uma vez instalado, as casas serão ligadas a rede de coleta de esgoto e as antigas e ultrapassadas fossas serão eliminadas. O esgoto produzido na casa fluirá até uma estação elevatória, instalado no ponto mais baixo do sistema, aproveitando dessa maneira a queda do terreno. As estações elevatórias funcionam como um tipo de cisterna. Nela o esgoto será acumulado e depois bombeado até a estação do tratamento. O cálculo para dimensionar as estações se baseia tanto na população existente incluindo um aumento previsto tanto quanto a população flutuante que vem só nos fins de semanas e feriados. Estão os seguintes lugares cotados para receber as três estações de tratamento, chamado de elevatórias: final da Dom Macedo Costa, final da Raimundo Branco e no bairro União na rua Sairé. A estação de tratamento está planejada para rua Dom Macedo Costa com travessa Antônio Péres. 

 

Estação de tratamento

Uma vez chegado à estação de tratamento, o esgoto passará por várias câmeras ou tanques. Primeiramente será retirado tudo que é sólido por gradeados, depois passará por uma caixa para retirar a areia para depois chegar a filtros e tratamentos com micro-organismos que devem decompor e remover 80 % do lixo orgânico. Aproveita-se dessa maneira uma rica e voraz fauna de bactérias que todos os rios usam para se livrar da sua poluição orgânica. O lodo resultando desses processos receberá tratamento adequado. Por fim a água já bastante limpa será tratada com produtos químicos que enfim será devolvido ao rio Tapajós.  Para evitar qualquer refluxo para a vila, será construído um cano gigante de 5 km, chamado de emissário, cujo custo será de 28 milhões, mais do que metade do orçamento. Esse cano devolverá a água tratada diretamente para a corrente do rio. Para poder devolver água devidamente limpa ao rio, precisa da autorização da ANA, Agência Nacional das Águas.

Dando por fim voz a COSANPA que está tentando desenvolver um trabalho de integração com a comunidade, aqui o desabafo:

"Estamos com grandes dificuldades. A participação da vila é muito baixa. Estamos a procura de um grupo de mais ou menos 20 pessoas, lideranças da vila, que poderiam acompanhar a implantação do projeto de perto. Mas falta interesse da comunidade! Somente o Bairro União se se destaca e temos uns hoteleiros no barco também. Na fase final do projeto, quando as ruas serão abertas mesmo, irá uma equipe da empresa de casa em casa, avaliando a situação de cada uma, procurando a solução melhor para todos os envolvidos."

A reunião fechou com a chamada para antecipar a reunião com a comunidade para o dia 12 de março. A data é aprovada por voto do conselho gestor da APA a qual cabe no momento o direito de se manifestar em frente às autoridades. Com a manifestação positiva a SEMA pode enfim liberar o pré-projeto. Vale lembrar que o grau da complexidade do projeto é três, elevado. A próxima reunião será as 9 horas, em Alter do Chão. O local ainda será definido e a população deve ser convidada com antecedência. 

 


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