A Quinta do Mestre do dia 19 de maio foi iniciada com uma apresentação inusitada, o resgate do tradicional festejo do Boi Dom Bosco. O evento semanal revive as diversas tradições esquecidas de Alter. A partir da proposta do grupo Kuatá de Carimbó, a vila recebeu o festejo do Boi Dom Bosco, como foi nomeado um dos criadores, o finado Hermes, entre o final de 1970 e início de 1980. Filho de Hermes e de mesmo nome, o mestre do grupo Kuatá de Carimbó conta com saudosa alegria o resgate do boi que era festejado no final do Çairé, durante a limpeza da praça entre realizadores e barraqueiros.
Hermes retoma essa tradição que surgiu a quase 40 anos atrás, pelo seu finado pai e amigos da época. Os brincantes do Boi Dom Bosco saíam pelas ruas do centro da Vila de Alter, quando o Çairé ainda era feito na Praça 7 de Setembro, e de lá o boi passava de casa em casa alegrando a comunidade, pedindo uma contribuição para promover a festa dos realizadores e barraqueiros que trabalharam durante todo o Çairé.
O Boi surgiu como uma brincadeira espontânea durante a limpeza no fim do Çairé, em que os restos de Japá que sobravam das barracas foi transformada no corpo do boi e com as caixas que guardavam o popular vinho Dom Bosco, foi adaptado para se tornar a cabeça do boi. É diante dessa criação brincante que surge o Boi Dom Bosco para fazer a alegria de quem trabalhou a semana inteira para a realização do Çairé.
“É uma história de amigos. Quando havia a varreção depois do fim do Çairé, ali na segunda-feira, um dia resolveram pegar um japá que é uma porta de palha tecida, ai dobraram no meio e colocaram a caixa ali na frente como se fosse a cabeça. E a caixa é de um vinho que vendia na época, que era o vinho Dom Bosco. Ai o Boi saía pelas ruas em um cortejo, arrecadando também contribuições para animar a festa e esquentar o sangue da galera”- comenta Mestre Hermes
Com o falecimento do pai do Hermes em 1986, junto com ele o Boi Dom Bosco foi caindo no esquecimento. Porém há muita história que precede e que continua em outros festejos de boi que há na vila.
A tradição do Boi Dom Bosco vai além e tem peculiaridades, como afirma Paulinho Gari: um dos principais realizadores da Vaca Lusa, tradicional cortejo que se apresenta anualmente nas festas juninas na vila de Alter do Chão com crianças e jovens locais. Paulinho conta a lenda do Boi Dom Bosco e cheia de fantasia:
“O relato da história do Pai Kazumbá e da Mãe Katirina é que o pai Kazumbá cuidava do Boi, daí então, a mulher dele, Katirina, ficou grávida e ficou com desejo de comer a língua do boi do patrão. Então Kazumbá, para não contrariar sua esposa, matou o Boi Dom Bosco, o mais bonito da fazenda e deu a língua do boi para sua companheira. O patrão, revoltado, deu um dia para kazumbá resolver o problema do boi morto. Então Kazumbá procurou médico, veterinário e curandeiros para poder trazer de volta o Boi Dom Bosco. Porém o remédio para reviver o boi era os aplausos do público e a dança” –conta Paulinho Gari, um dos comunitários convidados e autoridade da Vaca Lusa para reviver a tradição do Boi do Hermes Pai e amigos a 40 poucos anos atrás.
Festejo de bois são mais tradicionais que se imagina. Em Alter do chão, segundo Paulinho filho do seu Cecílio, já houve diversos bois, antes de surgir o Boi Dom Bosco, entre eles são: o “Torino”, “Boi Mimoso”, “Flor dos Campos”, “Cori Campi”, e “Boi da Vila” com seu folclore se parecendo com os bois de Parintins. Houve também o surgimento do Boi “Caranazinho”, mas por conta da dificuldade de se manter essa tradição que demanda vários brincantes, além das roupas e materiais para confecção do boi, atualmente só há a existência anual da “Vaca Lusa” que se apresenta nas festas juninas de Alter e Região coordenado pelo Paulinho Gari e jovens brincantes locais.
Vaca Lusa - I Festival Junino do Caranazal - 2014
Vaca Lusa - III Festival Junino do Caranazal - 2017
Fotos: Israel Campos