um poema para os que resistem na terra, aos de pau d'arco
por Tábata Morelo
dez corpos que apodrecendo nas caçambas
(o que aparece? o que apodrece?)
uma mulher estava lá. estava aqui e não está
(mais)
menos podres estão as carcaças (do que)
os urubus sobrevoam e não encontram motivo
_esse cheiro de carniça tem gosto de luta
onde vai pará (?)
“ao pé do ouvido você me tortura dizendo que essa terra não é minha”
eu não tenho meias palavras, mas minha voz já não consegue
dizer nada. silêncio. silêncio. é isso que você quer.
você quer pisar meu chão. mas meus pés estão imersos nesse barro.
meu chão é minha terra (me enterre nela)
eu vou ser o insumo do que planto, eu vou ser a vida que nasce, mas não arredo daqui.
você me mutila, você me fere, mas não me mata.
eu estou nessa semente que brota. eu estou num beijo de quem volta.
na força da enxada e dos olhos molhados.
nós não fomos dez. não somos só dez.