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Julieta para sempre

Foto Palestina
Susan Gerber-Barata
jan. 15 - 13 min de leitura
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Primeiro pipocavam as mensagens de WhatsApp. Cada vez mais preocupados. Julieta Hernandez, artista circense, palhaça e cicloviajante tinha misteriosamente desaparecida. Ninguém conseguia localizá-la. Aos pingos, depois, a confirmação do inimaginável. Feminicídio. Crime dos mais deploráveis. Julieta morta num crime sem sentido nenhum em Presidente Figueiredo, interior do Estado do Amazonas no dia 23 de decembro de 2023. Mais um. Conhecer pessoalmente a vítima de um crime bárbaro mexe com a gente.

                                                                                                                        Foto Leonado Milano

                                                                                                                        Foto Leonado Milano

Julieta Hernandez, venezuelana, vivia sua doce palhaça Miss Jujuba, apresentando sua arte de maneira itinerante, vivendo há 8 anos no Brasil como nômade e cicloviajante independente. Morou 5 meses em Alter do Chão, que deixou em setembro.


Juliana Balsalobre lembra da chegada da Julieta em Alter

Julieta chegou ao nosso encontro em Alter (no Galpão Las Cabaças) em abril de 2023. Antes disso, ela estava em Belém e através de um amigo palhaço de lá, o Ruber, ela fez contato com a gente e fomos as primeiras pessoas a conhecer Julieta aqui na Vila. Nunca me esqueço de sua chegada: ela chegou montada em sua bicicleta carregada de força, doçura, arte e três vasinhos de plantas. No nosso espaço ela deu oficina para crianças e apresentou seu espetáculo que foi um sucesso! Ela conquistou o público rapidamente com sua energia contagiante e seu jeito engraçado. Interagia com a platéia de forma deliciosa. Foi um encanto! Ela apresentou também no Barracão do Caranazal, no Platô da Vila Americana em Belterra, foi pra Flona e muitas outras comunidades da região.

Nos 5 meses que ela ficou em Alter, quase todos os sábados ela estava na Feirinha do Terminal com sua Palhaça Miss Jujuba fazendo graça e tocando seu lindo instrumento venezuelano chamado Cuatro. As crianças se encantavam com ela. Julieta era atenta e extremamente cuidadosa com tudo o que lhe atravesava: crianças, bichos, a natureza. - Além de artista, Julieta era também veterinária e chegou a fazer algumas assitencias cirúrgicas para o Dr Hernan Manaut. Aqui em Alter ela conheceu muita gente e fez amizades lindas e duradouras. Encantou e alegrou muitas platéias nas beiras do Tapajós. Julieta segue viva no coração de quem a conheceu. Seu amor, generosidade, sua força e delicadeza ecoam em nós. Julieta é semente que se espalha por tantos cantos do Brasil e do mundo. Sua história de vida é inspiração, poesia que não tem fim. Julieta pra sempre


Julieta para sempre

O ato de homenagem "Julieta para sempre" que aconteceu no dia 12 de janeiro 2024 em Alter do Chão se junto a outros que aconteceram em mais do que 140 cidades, todos lembrando Julieta e sua palhaça, Miss Jujuba - um ato mais poderoso do que o outro. Todos gritos contra o feminicídio também. Aqui reunidos algumas fotos e depoimentos de amigos, artistas, moradores. 

                                                                                              Foto Palestina

Patrícia Kalil, uma homenagem poetica

Essa é uma história de terror vivida por uma palhaça. Respeitável público, não há graça nenhuma no que vou lhes contar. As palhaças, no entanto, são criaturas que conseguem ver o mundo com outro olhar. Depois de subir uma estrada saca-rolhas gigante e escalar um tobogã de água com rodinhas, Jujuba seguiu pedalando pelo labirinto da floresta, conversando com passarinhos, com árvores, cipós, flores e todos os tipos de insetos. Jujuba era doce e, como sabemos, doce atrai insetos. Sai pra lá, seu Marimbondo, deixa meu ouvido quieto! Mas o marimbondo continuou fazendo comentários. Jujuba, você sabe por que existe flor de todas as cores? Sim, sei, porque existe cor de todas as flores. Essa resposta não faz sentido nenhum. Enquanto ele falava, Jujuba avistou uma mangueira cheia de frutos. Achou uma manga bem bonita, deu uma mordiscada e começou a chupar seu suco por um buraquinho. Tomar suco de manga assim é a maior delícia do universo. E qual seria a menor delícia?, perguntou o Marimbondo Polpa de manga congelada, ora. Tem gosto de manga, tem, mas não é a maior delícia do universo nem por um telescópio. Cansada depois de pedalar um dia todo, dona Jujuba parou numa hospedaria. Pediu por um gancho para amarrar sua rede e deitou para descansar. Seu Marimbondo não gostou do lugar, falando pra ela mudar de lá rapidinho. Ai, ai, seu Marimbondo, me deixa dormir. E de repente chegou um homem muito feio, o mais feio de toda as galáxias, cinza, fedorento, e perguntou para Jujuba quais eram seus pertences mais valiosos. Ora, ora, seu moço, meus pertences são alegria, esperança, fantasia e riso de criança. E qual o valor disso? Vale mais, seu moço, que o tesouro de El Dorado. Pois quero isso já para mim. Mãos ao alto: passa agora todo riso de criança. De repente, chegou uma mulher ainda mais feia que aquele homem já um milhão de vezes feio. Nunca se viu um casal de feios tão feios assim. E fedidos. E horrorosos. Jujuba tapou o nariz para não sentir tamanho fedor e fechou os olhos para não ver tanta feiura. Concentrada, começou a ver as cores se misturando e um arco-íris surgindo de suas mãos. Achou melhor ir subindo feito um balão. Subiu, subiu, subiu e lá de cima viu que podia fazer uma bicicleta de nuvens, camas elásticas fantásticas, dar piruetas de 5 minutos e fazer o mundo parar. As estrelas aplaudiam, piscando piscando. E aqui embaixo, em sintonia, aqueles que ouviram falar dessa passagem, pegaram toda a força guardada para uma grande exposição de amor, de alegria, de fantasia e com potinhos de jujuba.

                                                                                                                      Foto Leonardo Milano

                                                                                                                      Foto Leonardo Milano

Depoimento Professor Alfredo Santos

Eu sou artista das artes visuais. Sei que nós  da Arte somos muito incompreendidos e até mesmo perseguidos. Somos tidos como parasitas entre outras coisas...Mas nascemos para sermos assim ; diferentes dos demais como se tivéssemos sidos escolhidos para levarmos a música, as cores, a dança a um mundo cada vez mais poluído...

Era a missão da moça, ela só fazia o bem e talvez  por isso não imaginou a maldade da qual foi vítima. Só morre de verdade quem nada deixou, ela sempre será lembrada! A Arte agradece pela sua vida.

                                                                                                                                      Foto Palestina

A "cicleciata"

                                                                                                                                     Foto Palestina

                                                                                                                                     Foto Palestina

Depoimento de Marlene Bernardita Molina Soto Naucö Pichicöna 

#Jujú, pessoalmente envio muita força pra o seu espirito seguir na paz nesse momento, para sua família é todas as pessoas que a conheceram. Tudo se transforma sempre. Um dia fomos só energia depois matéria para logo virar novamente energia, nesse mundo com tantas dívidas com o feminino. Ter a compreensão que a raiz do sentir e pensar uterino real é muito diferente do que a gente tem imaginado ou constrói simbolicamente. O útero e a única parte do corpo humano que pode criar outra vida. Ele é também o centro criativo e o local onde o impulso de criar arte nasce em nos mulheres pois temos a costume de pasar tudo pela peneira da razão patriarcal, filha do patriarcado onde existem muitas formas de opressão ancoradas em aproximadamente 5000 anos de historia. A razão patriarcal é a filha do patricarcado não as mulheres pois dentro da escrita automática com suas divagações é filosofias entende que o patriarcado foi imposto as mulheres como uma ditadura simbólica.

A Julieta foi um exemplo para muitas mulheres de essa expressão uterina genuína. Difícil de compreender essa necessidade de criar e compartilhar com as outras pessoas a própria subjetividade e abrir o entendimento para avançar e intentar desconstruir esse sistema de crenças para a emergência da integração no plano simbólico e do feminino não significado. Para isso precisamos ajuda de toda a civilização. Ensinar as crianças e as pessoas em geral que a violência estrutural contra as mulheres e as minorias um aprendizado que precisa entendimento e compreensão para sua transmutação e construção do necessário respeito a diferencia que implica ser mulher nesse plano.  MARRICHIWEÜ

                                                                                                                                     Foto Palestina

                                                                                                                      Foto Leonardo Milano

Juliana Balsalobre - poesia

Julieta imensidão.

Sonho potente, presente.

Coração

Canção

Graça funda profunda

Amor sem borda

Vibrante vida Julieta

Nosso coração contigo

Julieta do vento, da água e do ar

Gratas por tanto em nós.

Segue estrada, voa alto!





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