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Turismo pós-pandemia em Alter do Chão

Turismo pós-pandemia em Alter do Chão
Susan Gerber-Barata
set. 6 - 9 min de leitura
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“Ainda não aprendemos bem a trabalhar unidos num mesmo objetivo para desenvolver o nosso município através do Turismo, que é um conjunto de atividades interdisciplinares. Para conseguirmos qualidade de vida para os residentes, devemos focar na conservação ambiental e na sustentabilidade econômico-social de Alter do Chão, buscando a profissionalização crescente de todos os envolvidos em atividades turísticas.”

Dona Irene Belo, Beloalter, analisa a atual situação do turismo pós-pandemia, contribuindo com duas sugestões importantes.   

Cabo de guerra de versões e lembranças

Narrativas há muitas. Cada um puxa a sardinha para sua brasa. Vamos voltar por um instante aos anos 1990. Alter ainda é uma vila pacata. Havia três pousadas que ofereciam pouco conforto e menos privacidade ainda. As praias eram imaculadas, a Ilha do Amor parecia uma floresta, bem amazônica. Os amores se perdiam entre a vegetação frondosa e a língua de areia cegava os olhos de tão branca. As únicas conexões com Santarém eram através de uma estradinha ou por barco.

Só certas datas enchiam a vila. Alter virou um grande palco, era famoso em toda a redondeza para suas festas. Festas que podiam durar vários dias. Lembranças saudosas do teatro musicado contando a história do Cruzador Tupi, dos Caírés festivos, mais tarde enriquecidos com a disputa do Boto, a parte profana. Nesses dias a vila fervilhava, dobrava, triplicava de habitantes e a alegria era total, tomava conta de tudo. Naqueles tempos que nunca mais voltarão, tudo parecia possível. Era tudo para descobrir, tudo para acontecer. Foi lá que o turismo começou a bombar!

 

The Guardian e a Globo

Foi outro dia que uns nativos com humor bem particular deram mais uma das suas lições sábias: 

Não inventa, não tenta. Uma barraquinha? Que loucura, aquela praça há tempo é abandonada! Vazia, a mercê. Não ouse! Que diabo é essa de tentar dar vida a mesma, aquela praça! A resposta não tardará. Sua barraquinha, modesta, despretensiosa, não sobreviera a primeira noite. Quem mandou tira-la foi o dono, o dono daqueles metros quadrados abandonadas que tu escarolastes para erguer sua barraquinha despretensiosa.  

Dona Irene acompanhou de um lugar privilegiado como se desdobrou o Turismo em Alter do Chão. Chegou em Santarém em 1992. Formada em Letras, com mestrado em Gestão do Desenvolvimento e Cooperação Internacional, professora no ILES ULBRA,  foi ela que ajudou a colocar Alter do Chão no mapa nacional, expondo as belezas naturais em muitas feiras de turismo, especialmente em São Paulo, Rio, Belo Horizonte, Brasília e Gramado. Inicialmente, participava dos eventos da ABAV, Associação Brasileira das agências de viagem e, a partir de 2000, eram de 3 a 5 feiras por ano. Ganhou na sua dissertação de mestrado a oportunidade de aprofundar o seu conhecimento sobre Turismo e percebeu o quanto precisávamos aprender. Um ano mais tarde, em Agosto do ano 2001, nasceu também o primeiro hotel de Alter - o Beloalter, festejando em Agosto deste ano de 2021, 20 anos de operação.

Criou-se a grife Alter do Chão. Vieram ONGs, embaixadas, ministérios, trazendo eventos. Veio enfim The Guardian, o jornal inglês, cunhando o título honroso e merecido de Praia mais bonita do Brasil. Veio a filmagem de Tainá 3,  a Globo que gravou aqui  a novela Amor Eterno Amor.  Alter se tornou conhecida lá fora como destino cobiçado. Dona Irene assumiu em 2013, no governo do prefeito Alexandre Von, a Secretaria Municipal de Turismo de Santarém com muita vontade de fazer diferença. Data desse tempo o primeiro plano de desenvolvimento turístico integrando Alter do Chão, Santarém e Belterra. Naquele ano também foi criada a AETA visando fortalecer o turismo, integrar o trade, e com isso, ficar a altura da demanda turística.

De resistências e esperanças teimosas

Uma vila pacata que vira, do dia para noite, destino turístico internacional fica com sequelas. Alter é vista com uma vila que cobra, mas quando se quer fazer, aparece alguém que impede que o exigido seja realizado. 

Fala-se nos bastidores lá fora da "república independente de Alter do Chão".

Encaixa-se aqui também o aviso: Não se expõe! Não coloque o dedo na ferida! Fica na sua! A briga é velha e continua, é atualíssima. Uns a chamam de resistência, outros de esperança teimosa. O bem conhecido “É assim mesmo”, ausência do estado, coronelismo, invasão e grilagem de terras que acabam em ameaças e até em tiroteios, especulação imobiliária desenfreada, bairrismo extremo, estrangeiros e ONGs vistos como inimigos mortais, ameaças veladas e abertas, resolver todas as brigas na justiça além da gentrificação solta. Quem trabalha com turismo sabe – esse lado o turista não quer ver jamais! Passaram por uma pandemia na qual a vila perdeu tantos membros queridos. Pós-pandemia, destinos com natureza intacta terão mais valor ainda. O velho 

não são eles que querem vender - é você que quer comprar 

preciso ser revisto, e com muito jeito.

A retomada a AETHA, associação dos empreendedores de turismo e Hotelaria de Alter do Chão

Vamos encarar alguns fatos: Alter é uma das grandes estrelas do Turismo do Estado do Pará, junto com Belém e Marajó e com isso recebe bastante atenção e suporte. O Distrito de Alter do Chão, junto com as cidades de  Santarém e Belterra tem forte vocação turística. A economia local gira quase por completo em volta do Turismo. Quem tem carteira assinada na vila ou é funcionário público –por exemplo, professor da UFOPA, da UEPA– ou funcionário de hotel/pousada, restaurante.

Uma das maiores plataformas de hospedagem, o site booking.com conta só em Alter do Chão com 84 meios de hospedagem (mês de referência Agosto 2021) hotéis, pousadas, hostels, redários e outras alternativas para pernoitar, nem mencionados as casas particulares de temporada, que somam por volta de 200, e os inúmeros quartos particulares, por exemplo do Airbnb. Só fazer as contas o que é gasto na vila entre hospedagem, passeios e outras atividades.

É aqui entra a velha, a nova AETHA no jogo, com todo o gás e vontade de mudar algo. A nova diretoria, chefiada pelo cearense Ivo Oliveira, formado em tecnologia de informação e com experiência de professor na área, além de vasta experiência na região amazônica, promete colocar a AETHA (Associação dos Empreendedores de Turismo, agora com foco em Hospedagem, de Alter do Chão) em novo patamar. Bem no clima pós-pandemia, quer alinhar e ajustar algumas negligências e omissões ocorridas no passado. Quer resolver a necessidade antiga que fica atenta ao equilíbrio entre interesses da comunidade e o movimento turístico, entre a sede do desenvolvimento e a preservação do meio ambiente. Uma carta recentemente entregue à Câmara dos Vereadores não esconde as intenções:

Ignorando-se o potencial de evolução da estrutura turística da região e por si só essas ações governamentais tem sido ao longo dos anos um claro desperdício de oportunidades.

Aposta em melhorias sistêmicas em todos os níveis da estrutura, sempre sentindo o pulso da comunidade, evoluindo em conjunto com a vila e não por cima dela. Ivo, bom de conversa e bom articulador, vê o seu trabalho como apartidário, sempre em prol do bem estar tanto do turista quanto da vila. Está trabalhando em aproximar todos os envolvidos, alinhado não só com o Conselho de Desenvolvimento Comunitário do Distrito de Alter do Chão, mantendo-se em pauta constante os interesses dos moradores locais e interesses comunitários. Promete não só uma junção de forças em prol do bem comum, mas também em frente às autoridades governamentais e quer enxergar a grife Alter do Chão como: Ruas limpas e arborizadas, bem sinalizadas e com trânsito ordenado. Porto e orla ordenados, natureza bem conservada. Em outras palavras:

A vila deve se respeitar, nenhum interesse particular deve se sobrepor aos interesses ambientais e sociais dos povos indígenas e originários e todos os outros moradores da vila.

Turismo que respeita

Num único ponto todos concordam: Alter precisa de um turismo com respeito, com mais respeito. Promessas que não faltam. E más-línguas também não. O antigo assessor e sua equipe e o atual trabalham e tentam fazer aquela ponte entre governo e a comunidade. Tentam descolar o famoso banheiro flutuante, ordenar a orla fluvial, harmonizar o trânsito na vila. A comunidade entregou o PPA, o plano plurianual à prefeitura que reforçou todas essas necessidades além da taxa turística, mais do que bem-vinda. Agora tem a carta da AETA entregue aos vereadores, junto com o conselho comunitário que, mais uma vez, bate na mesma tecla.

Aliás, tudo documentado no Boto, jornalismo comunitário, empenhado em espelhar a real realidade da vila. Empenhado em falar com todos os envolvidos, mostrar os diferentes ângulos da questão, os lados opostos. É o leitor que depois tira suas próprias conclusões. - Quem sabe, dessa vez vai! Alter merece, o turista merece! Os moradores da vila merecem também: Especialmente um Turismo com respeito, regras claras e convívio harmonioso.

 

 

 

 


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