O caminhão da prefeitura cheia de gente, todos prontos para se embrenhar na mata a procura de madeira e palha, chega no Laranjal.
O Sairé de Alter do Chão, festejado no mês de setembro, iniciou esse ano com bastante antecedência. Seguindo a tradição, a comunidade se juntou no dia 13 de Julho 2022 para recolher no mato as palhas da palheira e as madeiras necessárias para erguer o barracão comunitário, fundamental para o rito religioso do Sairé.
Fogos, lanche e um bom terçado - chegam os ingredientes indispensáveis para o sucesso desse mutirão.
O professor Cleuton organizando os grupos. Os homens cortarão os esteios e a outra madeira necessária para erguer o barracão comunitário do Sairé. As mulheres recolherão a palha, cada uma 3 feixes.
Beira estrada a palheira já fica mais escassez. A ordem do dia é se embrenhar por dentro da mata fechada.
As folhas da palheira, palmeira baixíssima, sem tronco aparente e folhas altíssimas e resistentes, são usadas na região para cobrir casas e barracões, elaborar paredes e até para tampar janelas. Colha-se somente uma única folha ainda não aberta, recém brotada direto do chão.
Feixe após feixe se formando, amarrado com cipó.
O almoço coletivo faz parte de todos os trabalhos comunitários.
A tardinha recontem os feixes já depositados na praça do Sairé. O próximo passo agora é abrir cada folha manualmente.
Sexta-feira à noite, a comunidade se junta para abrir a palha ainda fechada. Corta-se as folhas mais ou menos uniforme. Um chacoalhar abre a palha um pouco. Depois pega-se um punhado e dobra, dobra mais um e por aí vai....
Folha por folha sendo aberta
Lentamente as palhas estão sendo aprontadas
Palmeira localmente conhecidíssima, mas quase sem registro científico
A palheira, também chamada de curuá-pixuna ou palha preta, produz folhas gigantes, extremamente decorativas.
Flor e fruto da palheira. Usa-se somente esse rebroto, um por palmeira.
A palmeira localmente chamada de palheira ou curuá, curuá-pixuna, da família Palmae, Attalea spectabilis, parece ser nativa das matas da região do Tapajós. Há pouquíssimos registros científicos sobre ela tanto quanto sobre a sabedoria de colhe-la e seu uso para coberturas. Seu fruto do tamanho de um bola de pingue-pong contém uma amêndoa oleosa, comestível como os nativos devem bem saber.
Carece urgente de um registro científico, já que o seu uso está desaparecendo.