Na escola Sagrado Coração de Jesus as crianças tem uma matéria com um nome um pouco assustador: "Educação fiscal e cidadania". Mas foi exatamente essa educação fiscal e cidadania que fazia bastante falta na eleição do domingo passado do conselho tutelar aqui em Alter do Chão. Não foi eleito nenhum morador da vila. Muito zelo e bastante burocracia deixam um retrogosto, não só em quem não foi reeleito como o Junior Sousa ou eleito somente como segundo e terceiro suplente como o professor Joelson Pereira ou Christiano Mota de Sousa.
Eleito no mesmo dia no Brasil inteiro, os conselheiros tutelares, aqui em Alter tem cinco membros, atuam em parcerias com as escolas, organizações sociais e serviços públicos, responsável por um trabalho importante protegendo os direitos de crianças e adolescente, os mais vulneráveis da sociedade, exercendo um mandado de quatro anos. Instituídos pela Lei 8.069, no dia 13 de julho de 1990, foram criados junto ao Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) como órgãos fiscalizadores completamente independentes e autônomos. Conforme o edital elaborado pelo COMDCA, todos os 46 candidatos tinha que preencher pré-requisitos como atuar na área de infância e juventude e passar por uma prova especial antes de poder candidatar.
A eleição mostrou algumas vulnerabilidades como a líder comunitária Sara Pereira de Santarém observa.
Realmente, pelo que tomei conhecimento, essa votação foi uma prévia do que serão as eleições municipais do ano que vem. Muita gente se confundiu com a regra de não poder fazer campanha nas redes socais, que favoreceu bem provavelmente candidatos com mais recursos financeiras para fazer campanha e até com estrutura de transporte para carregar eleitores o dia inteiro das suas casas até o local da votação, aliás proibido pelo edital.
Pouco divulgado, ou divulgado em cima da hora, a eleição mostrou várias falhas. A lista dos candidatos previamente aprovados nem estava em ordem alfabética e também não trouxe qualquer informação além do nome. Os candidatos por sua vez se encontraram num impasse, num tipo de limbo, o edital interditava o uso de qualquer rede social. Dessa maneira os candidatos, já acuados, só podiam mandar imprimir santinhos e confiar no velho boca-a-boca além de tentar motivar um eleitorado que pouco quer exercer o seu direito de votar. A solução foi mesmo encher carros e ônibus e levar o seu fiel eleitorado até a boca da urna. Muitos moradores não ficaram sabendo da eleição ou muito em cima da hora. Tantos outros não entenderam muito bem as regras e a maioria nem tinha candidato. Confundiu a cabeça do eleitoral também que ele tinha que votar nos três conselhos tutelares de Santarém e podia votar em até 5 candidatos. Em alguns lugares de votação faltaram células para votar, o que foi resolvido durante o dia.
Foi exatamente o que pode ser observador aqui em Alter do Chão. Será que foi zelo demais? Já se imaginou morar no Jacundá e ter que pegar o sol rachante só para votar para um conselheiro que provavelmente você nem conhece? Somente 10% dos aptos para votar aparecerem na escola Borari, o único local onde se podia votar.
Votações fazem parte da democracia, parte do poder que o cidadão pode exercer. A votação do domingo expões, infelizmente as mesmas mazelas de sempre.
Dona Celina ..... pergunta com certa razão:
Por que as eleições não podem ser diferentes? O povo de Alter do Chão votar no Conselho III sem se preocupar em votar no I e II, já muitas vezes não conhece as pessoas dos outros conselhos.
Esse depoimento ainda fica mais forte, ouvindo as constantes resmungos da vila que se queixa ser mandado pelo pessoal de fora, os "estrangeiros", nos quais incluí até moradores de Santarém. Fato que só pode ser lamentado e rebatido com outra fala, nada amigável, repetida por várias pessoas da vila:
Aqui só se sabe cobrar. Na hora de exercer o seu direito de votar, fica na sua. Em Alter do Chão votaram 10% dos cidadãos. Será que depois serão os outros 90 % que cobrarão para um serviço que eles não escolherem?
Mas chorar por leite derramado não resolve. O segundo suplente Joelson Pereiro por sua vez agradece a todos que expressaram confiança nele. Quem sabe as futuras gerações já façam diferente. A palavra final fica com a Sara Pereira que disse tudo:
Que tiramos lições desse processo todo para não repliquemos (seja por ação ou omissão) as práticas que tanto condenamos em nossos discursos. Parabéns aos eleitos e bom trabalho em prol das crianças e adolescentes.
*foto de capa de Hellen Joplin