O BOTO - Alter do Chão
Você procura por
  • em Publicações
  • em Grupos
  • em Usuários
VOLTAR

Centro Cultural Banzeiro com barracão novo

Centro Cultural Banzeiro com barracão novo
Susan Gerber-Barata
jun. 10 - 7 min de leitura
010

"Veja que conquista! Depois de 18 anos em Alter do Chão, já conseguimos um primeiro andar!"

diz Cláudio Ferreira de Souza, mais conhecido como Mestre Capoeira, mestre de carimbó e capoeira sobre o seu novo barracão. Ele é, junto com sua esposa Marcele Santos, mestre de dança, profundamente engajada com a cultura popular. Não só resistiram firme a todos os problemas e apertos que a pandemia trouxe para os artistas e agentes culturais, mas conseguiram, pura resiliência e persistência, e ajuda financeira da lei Aldir Blanc, erguer um novo galpão para o seu centro cultural Banzeiro. Daria, se a palavra não fosse tão carregada, de descrever o casal Cláudio Ferreiro de Souza e sua esposa Marcele, com um tipo de guerrilha cultural, são mestres, agentes e educadores multifacetados sempre prontos para fazer das tripas coração com que a Cultura Popular seja uma ferramenta de educação.

O casal Cláudio Ferreiro de Souza e sua esposa Marcele Santos e o novo barracão Banzeiro.

Cultura Popular como ferramenta de educação

Localizado na subida para o bairro Nova União, na Travessa Francisco Pedroso, no 25, o novo barracão do Centro Cultural Banzeiro com seu chapéu de palha que se sobrepõe sobre tal de primeiro andar feito com chão de tábuas é totalmente dedicado à cultura popular. Um conceito abrangente e bem amazônico que ganha corpo nas mãos dos dois. Como Cláudio diz:

"Carimbó não é só para turista ver não! Para nós é uma ferramenta de educação. Trabalha ao mesmo tempo a autoestima, o corpo, a socialização tanto quanto o desenvolvimento da mente."

Cláudio, o mestre Capoeira em cima do palco pequeno que permite performances no térreo.

Carimbó não é só um estilo musical muito bem ritmado, alegre, mas também tem o seu lado educativo e terapêutico. O seu ritmo, acentuado pelos instrumentos de percussão, especialmente os tambores e a melodia, se baseiam em instrumentos típicos, muitas vezes confeccionados para quem as toca. Mas o que seria do carimbó sem as saias rodadas e as vestes coloridas dos homens? São intimamente ligados. Dialogam tanto na maneira de dançar carimbó quanto flertam com o humor e a brincadeira nela embutida. No Banzeiro tudo isso é celebrado. Uma vez pelo grupo Banzeiro de carimbó que não só toca as composições do Cláudio, mas também é ensinado. O casal de mestres vê o seu trabalho, sua maestria em tudo que essa cultura abrange. A palavra Banzeiro descreve aquela água agitada e a sucessão de ondas que um barco deixa para trás ao se deslocar. Imagem que pode ser interpretada como os vestígios deixados pela educação.

"Cultura é para todos, preto, pardo, branco, crianças e avós!"

Marcele observa uma das suas alunas

 

Eu não sou daqui

"Eu não sou daqui / Eu cheguei agora / Vim contar pra vocês / O que foi que eu cantei lá fora / Cantei samba, cantei xote / Maracatu e baião / Cantei calango e fandango / E também fogo de mão / Cantei frevo e toada / Bumba meu boi, carimbó" 

- diz a letra do Azulão da Bahia que parece feito para o Banzeiro. Marcele, psicóloga de formação, veio de Belém e Cláudio é Acriano. Fato que inspirou sua música - Eu nasci nas cabeceiras - . Mas foi em Alter do Chão onde abriram em 2012 o seu espaço cultural Banzeiro, se juntando ao grande movimento carimboleiro puxado na vila pelo Mestre Chico Malta. O carimbó estava com tudo, ganhou força e visibilidade. Conquistas que culminaram na façanha de torna-lo em 2015 património cultural do estado do Pará. O carimbó, música e dança de origem mestiça, com muitos sotaques, tanto com influências indígena, negra e cabocla, pode ser visto como uma dança das praias. Tocada e performada não só na zona atlântica do Pará, no Salgado, mas também pelos pastores dos campos abertos do Marajó e os tocadores de Curimbó, mais rural e agrícola, daqui do Baixo Amazonas entre Santarém, Óbidos e Alenquer. Aqui em Alter foi o mestre Cláudio o primeiro a exercer uma das suas múltiplas profissões: mestre em construir instrumentos musicais, nesse caso os tambores gigantes do Carimbó. Depois de18 anos nessa terra, compôs inúmeras músicas. Muitas delas em homenagens a Alter. Uma última é sua música para a querida Dona Luzia, Deus a tenha. Sobre Alter ele fala:

Os comunitários somos nós! Não sou conquistador não, tenho sangue negro correndo nas minhas veias! Respeito todos, mas não baixa a cabeça não! Nós de fora também cuidamos, e muito bem, de Alter!

A turma de meninas do carimbó de saia, animadíssimas e participantes! 

 

Repassando a cultura popular em projetos sociais

Marcele por sua vez iniciou seus projetos sociais e de cultura aqui em 2014 quando fundou o - Carimbó Divertido - que aproxima crianças pequenas entre 4 e 9 anos bem lúdico do universo popular com brincadeiras e arte. Trabalha também com vivencias, contação de histórias e a criação de personagens. Em 2019 foi o Boitatá; lenda da cobra protetora da floresta, que toca fogo na própria cabeça para espantar e desorientar o caçador e intruso. Agora neste ano é um boi, o boi Pé Tuira, pé-sujo, empoeirado pelas ruas de barro, que lhe fará companhia, novamente para uma turma de crianças entre 4 e 9 anos, todas da comunidade. Trará com ele tanto a sinhazinha quanto o caçador, tudo para alegrar a comunidade nos já conhecidos - Por-de-som de Carimbó - que deixam saudades muitos frequentadores da praça central de Alter do Chão. Neste projeto as crianças também se divertem com pintura indígena e aprenderam um novo olhar sobre a alimentação, toda com ingredientes locais.

Concentrada e completamente entregue a pequena dançarina ensaia uns passos.

 

O Banzeiro veste saia

O trabalho educativo com os menores deu inspiração para outro projeto da Marcele: Banzeiro de Saia. Nele são as meninas entre 10-14 anos que dançam e rodam as saias com muita garra e desempenho. Além das aulas de dança elas participam das mais diversas oficinas onde aprendem também trabalhos manuais e artesanato como manda a cultura popular. A sua musicalidade aperfeiçoam aprendendo a confecção de instrumentos musicais os quais depois tocam em oficinas de música. Palestras socioeducativas completam o pacote. Acompanhando o crescimento das meninas, Marcele já está pensando numa turma nova e planeja atender meninas entre 15-18 anos.

 

Planos pós-pandemia

Os planos para depois da pandemia são muitos. Com o novo centro em pé querem continuar apostando na diversidade da cultura popular. Além de muito carimbó tocado, dançado e transmitido, vão continuar com as oficinas, a reciclagem, querem vender os instrumentos musicais da própria produção, as saias floridas do carimbó e, além disso, pensam apostar na culinária e comida local e amazônica.

Novidades e muitas outras informações no facebook e instagram do Grupo Banzeiro.

 

 


Denunciar publicação
    010

    Indicados para você