Por Tábata Morelo
 um processo de retomada. as retomadas são lutas
 diárias. é entrar pela porta, reconhecer sua casa. a
 chave não era a mesma, foi trocada. pé na porta.
 deito na minha cama e me demoro nos móveis.
 meus pés estão fincados na terra. e você, invasor,
 puxa os lençóis. você toma minha palavra aos
 berros. eu te escuto e escuto sua lei. você joga
 papéis sem sentido. os papéis caem e meus pés
 continuam. mesmo sem lençóis, sem minha palavra
 (que está silenciada), sem papéis. você arranca
 minhas roupas, meus colares, o que me enfeita, me
 viola. me visto de luta. meus pés continuam. a
 retomada é meu corpo presente ao seu despeito.
 você não pode ignorar meu corpo na minha casa,
 essa casa que me é tão familiar e que você
 desconhece os seus caminhos. te convido para um
 café e te digo que está tudo bem. que tudo bem
 querer ser o síndico importuno. e te lembro que
 paguei todas as contas, todos os condomínios,
 muitas vezes a mais. que quitei dobrados. que meus
 avós estão ausentes desse café por causa de suas
 visitas de outrora.

