Então é seis de março outra vez.
Depois de dois anos de pandemia, Alter do Chão ou “a Vila”, como nós nativos e
moradores fixos a chamamos, está no berço. Apesar de aqui já ser habitada pelos
nossos ancestrais "Borari", foi introduzida a missão de Nossa Senhora
da Purificação que logo se transformou em Nossa Senhora da Saúde e, em seguida,
elevada à categoria de vila em 1758, por Mendonça Furtado, ainda no Brasil
colônia.
Morar em Alter do Chão, mais do
que simplesmente estar, é conectar-se consigo mesmo e com a natureza. É poder
sentir toda a sua energia, bem como a sua magnitude, e de quanto as pessoas se
empenham em ajudar quando há algum comunitário com necessidade. É muito bonito
observar o jeito que as pessoas se mobilizam, dentro da Vila de Alter do Chão,
e como elas ajudam umas as outras. Desde curumim, convivendo em associações,
clubes de futebol e na própria banda 29 de junho, observo isso. Sempre quando
algum comunitário precisa a Vila deixa as rivalidades de lado e energiza-se com
uma espécie de união fraternal.
Nessa data tão importante no
calendário cultural da vila é incrível ver o quão as pessoas se empenham em
fazer o mais bonito bolo, de sua associação ou bairro, com o mais bonito
recheio. E os bolos, além de serem saborosos, sempre contam algo do imaginário
popular, coletivo e histórico de Alter do Chão. Lembro-me que, quando criança,
ia pedir doações, para o bolo, do Luso Brasil, Barqueiros da Ilha e Conselho Comunitário.
Sair nas casas e comércios aos três dias que antecedem o aniversário é ainda
mais especial, com o cheirinho de bolo pairando no ar. Se fôssemos jogar em
conceitos sociológicos, todas essas tradições e costumes emanam de uma certa
solidariedade mecânica, conceito cunhado por Émile Durkheim em meados do século passado.
Alter do Chão é uma terra de
encantos e magias, realmente, e que muda com a mudança do ciclo das águas, das
chuvas e do rio, e das datas comemorativas do calendário cultural. Alter do
Chão é a nossa casa, é o nosso paraíso. Em outras palavras, Alter do Chão é a
nossa mãe, pois que a sua energia é uterina. Agradeço por ter tido a honra de
nascer e crescer dentro de você, "Mãe Alter", e, como seu filho,
parabenizo-a. Feliz aniversário.
Encerro com um poema:
Minha Terra Alter do Chão.
Te amo e te adoro.
Te guardo no coração.
Para muitos só um lugar.
Para mim és o meu rincão.
Não me vejo longe de
ti.
Aqui é o meu lugar.
De todos os anos que vivi.
E de todos que irão chegar.
Agradeço por me acolher.
Tu que me viste nascer.
Correr nas tuas praias, crescer.