Um caminhão (!) estacionado na orla bem ao lado da placa que proíbe estacionar qualquer veículo, uma balsa gigante que acordou Alter inteira com som altíssimo na madrugada do domingo e o desabafo de uma moradora no Instagram de um vereador santareno clamando por mais fiscalização - suficiente para estourar a paciência de inúmeros moradores de Alter do Chão. Soma-se a isso as constantes reclamações de turistas e hóspedes, que se queixam não só de preços que não exatamente entregam o que prometem além do constante atrito com casas de veraneio cujos moradores ou hóspedes abusam do som altíssimo e não deixam nem turistas nem nativos dormir - assunto suficiente para a Associação dos Empreendedores de Turismo em Hospedagens de Alter (AETHA) procurar diálogo com a administração da vila. Os membros da AETHA se reuniram nesta segunda-feira, dia 20 de setembro 2021, com a administração distrital em busca de soluções.
O administrador distrital da vila Luis Alberto Pixica atendeu com portas e ouvidos abertos, dando atenção e certa satisfação às inúmeras queixas. Mas, aqui fala o seu lado advogado, deixou bem claro:
Políticas públicas sempre serão entendidas como uma estrada de mão dupla - o poder público ordena, organiza e regulamenta, fazendo dessa maneira sua parte, mas o outro lado, os moradores, veraneiros e turistas têm que contribuir também, arcando com suas obrigações e deveres.
Abrindo a conversa, o sr. Pixica explicou a sua visão de Alter do Chão. Nas palavras dele, Alter hoje é uma cidade regida e administrada por outra cidade. Uma vila ainda, que se tornou, mal acordou, por assim dizer, de dia para noite, cidade grande. Hoje abrange já mais de 10 bairros. Alter não pára de crescer e se tem hoje já por volta de 10.000 habitantes fixos, esse número dobra tranquilamente nos fins de semanas e feriados. A vila cresceu, até dá para dizer que explodiu, infelizmente nos últimos anos de maneira completamente desordenada. A gentrificação empurrou quase todos os nativos para os bairros mais distantes. Nem a administração, nem a nela embutida burocracia, lenta por natureza, deram e dão conta de domar e arrumar a casa da mãe Joana. Ainda.
Para os amigos tudo, para os outros a lei
Além disso, as entrelinhas falam direto e claro - a " República Independente de Alter do Chão" –como ela é vista de fora– perdeu credibilidade nos últimos anos. Pior! Circula a visão "lá fora" que a vila despreza ajuda oferecida. Profundamente dividida, completamente desunida, uns se colocam contra os outros. Dessa maneira fica difícil encarar de frente os problemas da vila que não são pequenos. Muitos profissionais e prestadores de serviço ficam numa zona desconfortável, invisível e na ilegalidade. Praticam uma reserva de mercado que infelizmente não se sustentará mais por muito tempo. Sendo legalizado, surge outro problema gigante - o que já está por exemplo acontecendo com os quiosques que serão retirados da orla. Uma vez legalizado em frente à prefeitura, tem que se abrir pela força da lei uma licitação. Essa acabará rapidinho com qualquer reserva de mercado.
Enfrentando esse cenário, nos planos da administração do sr. Pixica para Alter, sua gestão está no 3o mês, estão
- Trazer as diversas secretarias da administração da prefeitura para Alter do Chão, por exemplo, para legalizar terrenos e casas e com isso arrecadar mais para poder gastar mais em prol da vila, fiscalizar poluição sonora, águas servidas e piscinas inteiras jogadas na rua, infrações no meio-ambiente e muito mais, por exemplo, implementação da taxa turística.
- Segurança pública com policiamento permanente, um aumento de funcionários significativo, mais viaturas e com isso um melhor atendimento para toda a população e região do todo Eixo Forte.
- Ordenar o porto e reerguer o CAT - Como a marinha, responsável pela parte fluvial, é um órgão federal, precisa de uma articulação complexa junto com a Secretaria de Turismo para mexer com as embarcações. A visão final é liberar a frente da ilha das lanchas que terão que aportar no CAT dando mais sossego e ênfase aos catraieiros - enfim eles tradicionalmente fazem parte da paisagem da Ilha do Amor e levam os turistas para o ponto mais emblemático da vila.
- Regularizar ao longo prazo lancheiros, catraieiros e barraqueiros que podem trabalhar sossegados e dentro da legalidade e segurança exigida por lei. Para dar o devido suporte para os catraieiros, ainda falta a devida lei ou uma portaria.
- Recadastramento do microssistema, veja acima, quem tem direitos também tem obrigações.
- Implantar um sistema subterrâneo de lixeiras que acabariam, no mínimo no centro da vila, com os constantes atritos.
- Kléber Costa está empossado no cargo de chefe da fiscalização aqui em Alter do Chão, responsável em frente à SEMURB fazendo valer a lei.
Contrapartidas a AETHA
Um membro da AETHA desabafa:
- O que vou deixar para os meus filhos e netos? Estão acabando com tudo, com a ilha, com a natureza, com tudo!
A AETHA, por sua vez, aposta em sustentabilidade e um turismo de qualidade, bem atendido, com preços justos. Para ajudar nisso, se compromete por exemplo a avisar com antecedência os picos de hospedagem. Sabendo disso, os serviços relacionados podem se adequar. As barracas na Ilha do Amor serão capazes de providenciar capacidade e pessoal adequado e suficiente para atender todos os turistas de maneira profissional.
Ivo Oliveira, novo presidente da AETHA promete andar de mãos atados junto com a administração. Além disso, está propondo uma autofiscalização dos serviços dos seus membros hoteleiros e pousadas que não só inclui o lixo - lembrando que tem uma vez por mês coleta de recicláveis e o restante do lixo tem horário para ser colocado na rua entre 6-8 de manhã - e em tudo apostando na sustentabilidade. Enfim, todo mundo quer atender bem o tão cobiçado turista. Um turista que está aqui na Amazônia a procura de natureza, paisagens lindas e limpas, uma estadia de sossego e bom atendimento e com seus gastos paga o sustenta de muita e muita gente da vila.