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Santarém ultrapassa 500 mortes por Covid-19 e enfrenta nova onda de casos graves

Santarém ultrapassa 500 mortes por Covid-19 e enfrenta nova onda de casos graves
Patrícia Kalil
jan. 27 - 13 min de leitura
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A nossa mãe, a Terra, nos dá de graça o oxigênio, nos põe para dormir, nos desperta de manhã com o sol, cria esse mundo maravilhoso para compartilhar, e o que a gente faz com ela? O que estamos vivendo pode ser a obra de uma mãe amorosa que decidiu fazer o filho calar a boca pelo menos por um instante. A Terra está falando isso para a humanidade. Esse também é o significado do recolhimento. – Ailton KRENAK, em 'O Amanhã Não Está à Venda'

"O Novo Normal Está Morto", registro feito em meados de agosto do ano passado em Alter do Chão pelo foto-documentarista Leonardo Milano para o projeto Jornalistas Livres. De lá para cá, acumulamos mais de 5000 casos confirmados com o novo coronavírus.

Relaxamos e não podemos negar

No último trimestre, afrouxamos as medidas de prevenção mesmo sabendo que a pandemia não tinha acabado. Fomos aceitando a convivência com o que não é normal, tentando colocar o vírus na rotina. 

Resolvemos encarar o invisível, milhares de perdigotos livres que podem estar em qualquer coisa que encostamos, encarar as bocas de tantas pessoas sem máscara no caminho. Voltamos às ruas, às compras, aos encontros fazendo de conta que dava para levar a vida e a pandemia.   

Se foi possível parar de uma vez, por que não seria possível desacelerar? Por que não seria possível outra experiência em comum? – Slavoj ZIZEK, em 'Pandemic!'

 

Abrir mão da alta temporada de dezembro, da Black Friday de novembro e das eleições de outubro? Por acaso ou não, a pauta Covid-19 também foi perdendo espaço no noticiário. Realmente, as eleições municipais no Brasil e presidenciais nos Estados Unidos roubaram a cena. Em dezembro, as informações no mundo todo giraram em outra frequência: Natal e Ano Novo. 

⚠️ NOVA ONDA DE CASOS

No panorama acima, podemos ver a primeira onda crescendo em maio e diminuindo em agosto. Entre setembro, outubro e novembro, mantivemos a faixa de mil casos por dia. Desde novembro, o número de monitorados por dia está crescendo e pressionando o sistema de saúde da cidade.
OBS: Em agosto, ficamos por um período sem receber o boletim diário. Em dezembro e janeiro, também passamos alguns dias sem boletim. Por isso, as falhas no gráfico.

Colocando os dados diários do boletim em uma linha do tempo, podemos perceber que o número de casos monitorados voltou a subir desde novembro e, de maneira mais acentuada, nas últimas semanas.

De outubro para cá, temos um crescimento de 4 vezes. Com o foco só no mês de janeiro, temos a seguinte curva:
 

Afrouxamento, variante mais forte e reinfecção. Tudo está nas manchetes. Quais fatores estão influenciando o crescimento da epidemia em Santarém?

A nova cepa do vírus que está em circulação na região Norte é sim mais contagiosa. O que isso quer dizer? Está mais fácil pegar que antes. Se você não quer pegar nem espalhar Covid, cuide-se.

Estudos do Amazonas também alertam que pessoas com menos de 60 anos são mais vulneráveis. 

No começo de janeiro, o Pará já estava em alerta por causa da trágica situação em Manaus.

Como tentar conter essa subida acelerada que evidencia uma segunda onda?

O futuro é aqui e agora, pode não haver ano que vem – Ailton KRENAK, em 'O Amanhã Não Está à Venda'

Na última semana, o prefeito reeleito Nélio Aguiar, que acumula a experiência de ter enfrentado o vírus pessoalmente e, de maneira pública, a bagagem e os dados da primeira onda em junho-ago, decretou novas medidas de controle.

18.01.21 - DECRETO MUNICIPAL 189/2021

  • interdição de praias e balneários de Santarém;

  • toque de recolher restringindo a circulação de pessoas entre 22h e 5h;

  • suspensão de atividades em grupo;

  • adiamento do início das aulas presenciais nas escolas;

  • fechamento de academias por 15 dias;

  • limite de funcionamento de comércio não essencial até 15h;

  • esquema de retirada ou entrega em casa para restaurantes e bares.

 

22.01.21 - DECRETO MUNICIPAL 294/2021

Dispõe sobre a composição do Comitê de Crise, que conta com todas as secretarias municipais, mas não conta com representantes da sociedade civil, nem regras sobre comunicação pública, coletivas de imprensa e acesso aos diagnósticos/análises.

22.01.21 - DECRETO MUNICIPAL 296/2021

Mais medidas temporárias, que começam a valer domingo, 24:

  • fechamento de shoppings centers por 7 dias;

  • fechamento de salões de beleza/clínicas estéticas por 7 dias.

carlos drummond de andrade

Diante de tal cenário, quem é contra as medidas restritivas?

Recentemente, a direção do Paraíso Shopping Center e do Rio Tapajós Shopping coloca-se contra o fechamento por uma semana.  

O Comitê Popular de Combate à Covid e o jornal O Estado Net publicaram notas de repudio à direção dos shoppings. 

A UPA24h e o hospital de referência HRBA dão conta da segunda onda de Covid? 

No início da semana passada, parentes de pessoas com Covid-19 foram informados sobre a possibilidade de transferência de pacientes graves para o Hospital Tapajós, em Itaituba

No panorama acima, podemos ver o pico de internações da primeira onda, entre maio e julho. Em setembro é fechado o Hospital de Campanha e diminui o número de leitos disponíveis.

Há alguns dias, o número de internações está crescendo rápido e pressionando o sistema de saúde da cidade. Mais que triplicou o número de internações em duas semanas: 13/01, o sistema tinha 17 pacientes internados, hoje, dia 26/01, já são 67.
 

O aumento acelerado de casos provocou onda de internações de pacientes com Covid-19, dobrando de 25 internações para 45 de um dia para outro. Ontem estávamos com 50 internados, capacidade esgotada. Isso de acordo com as informações disponíveis no boletim da prefeitura


Como referência, no dia 23 DE MAIO, tínhamos mais ou menos o mesmo número de casos sendo monitorados e 5 vezes mais internações, com 134 pacientes internados com Covid-19 entre leitos clínicos, UTIs e Hospital de Campanha. 

Por que o Hospital de Campanha foi fechado se havia possibilidade de nova onda?

O Hospital de Campanha entrou em operação no dia 22 de abril e foi desativado em 28 de setembro. O hospital era equipado com:

36 leitos de unidade de tratamento intensivo
84 leitos clínicos
10 leitos clínicos para indígenas 

Cinco meses de uso. A decisão de fechar o Hospital de Campanha no fim de setembro foi do governo do estado. A administração da unidade era terceirizada para o Instituto Panamericano de Gestão (IPG), que recebeu R$ 4,2 milhões para custeio e mais de R$ 5 milhões para investimentos. Cinco meses de uso.

Levamos essas informações ao governador Helder Barbalho para que pudesse retornar com o Hospital de Campanha, porque precisamos ter uma retaguarda para evitar uma superlotação na UPA” - prefeito Nélio Aguiar | fonte Prefeitura de Santarém.

CEMEI PAULO FREIRE VIRA UNIDADE DESCENTRALIZADA DE ATENDIMENTO

Nos últimos dias, o Centro Educacional Paulo Freire (próximo à Praça das Flores / Parque da Cidade) foi adaptado para receber e atender pacientes com sintomas gripais.

UNIDADE DESCENTRALIZADA NO MARACANÃ E SALVAÇÃO

Com o número de casos crescentes, a prefeitura também transformou a Escola Ecila Nobre dos Santos em unidade de saúde temporária para atender/encaminhar pessoas com suspeita de Covid-19. Também é feita "dispensação de medicamentos para Covid", como informa circular da prefeitura (acima). O município tem seguido desde junho um protocolo que já rendeu a distribuição de mais de 1 milhão de "medicamentos para o tratamento precoce e preventivo de coronavírus". Fonte Prefeitura de Santarém.

ESCOLA ESTADUAL MARIA UCHOA MARTINS VIRA "NOVO" HOSPITAL DE CAMPANHA

A escola fica perto do Hospital Regional do Baixo Amazonas (HRBA), na avenida Moaçara, facilita a transferência de casos graves para o Regional. A unidade está sendo equipada para atender casos graves, em parceria com o governo do estado.

Até a população ser imunizada com a vacina, a possibilidade de ondas  esteve e estará na linha do horizonte.  

Mas está morrendo tanta gente assim?

Vemos algumas pessoas dizendo que 'alguns vão morrer' e é inevitável. Esse tipo de abordagem afeta as pessoas que amam os idosos, que são avós, pais, filhos, irmãos. É uma declaração insensata, não tem sentido que alguém em sã consciência faça uma comunicação pública dizendo 'alguns vão morrer'. É uma banalização da vida, mas também é uma banalização do poder da palavra. Pois alguém que fala isso está pronunciando uma condenação, tanto de alguém em idade avançada, como de seus filhos e netos e de todas as pessoas que têm afeta uns com outros. Imagine se vou ficar em paz pensando que minha mãe ou meu pai podem ser descartados. Eles são o sentido de eu estar vivo. Se eles podem ser descartados, eu também posso. – Krenak, em 'O Amanhã Não Está à Venda'

⚠️ MORTES E MORTES SUSPEITAS

No panorama abaixo, as linhas em vermelho representam os óbitos que são confirmados a cada dia. De acordo com o boletim da Prefeitura de Santarém, a somatória dos óbitos confirmados já ultrapassa 500 – mais ou menos 3,6% dos casos confirmados.  

E as linhas em preto? As linhas em preto são os "óbitos suspeitos aguardando análise". Esse número também é divulgado no boletim, mas não entra na soma do dia porque nela só entram as mortes confirmadas. 

Agora vamos fazer um exercício mental e sobrepor o gráfico acima no gráfico da onda de casos:

A linha do tempo é exatamente a mesma, mas no primeiro panorama podemos visualizar as mortes divulgadas a cada dia distribuídas no tempo e no segundo panorama podemos visualizar as ondas de casos de Covid-19 na cidade. Mesclando os dois panoramas podemos perceber que o pico de mortes (jun-jul) veio depois do pico de casos (mai-jun).

Na outra onda...

A essa altura já estávamos em lockdown. Para evitar o colapso por falta de leitos hospitalares, a prefeitura trabalhava em clara campanha pelo isolamento social:

Campanha para controle do vírus

EM FOCO: Mortes suspeitas todos os dias

Retomando novamente o panorama das mortes distribuídas ao longo dos últimos 10 meses...

Essa mancha preta em junho/julho são os picos de mortes suspeitas. Naquelas semanas, estavam morrendo mais de 40 pessoas por dia somando as mortes divulgadas como suspeitas de Covid-19... Vamos ver em detalhes esse período abaixo. Note, em cinza claro, a soma das mortes divulgadas: 

Em janeiro, até agora, a situação segundo o boletim é a seguinte:

 

Acesso à informação, cidadania e democracia

Diante dessa emergência, espera-se que a população tenha toda informação necessária sobre a situação da epidemia em Santarém. Infelizmente, até agora não houve uma única coletiva de imprensa do Comitê de Crise nem canal de consulta para a população. Algumas perguntas guardadas sem resposta na esperança que a prefeitura de Santarém faça uma coletiva de imprensa online :

  1. Quais são os epicentros do município, uma vez que unidades de saúde descentralizadas estão sendo abertas em bairros com mais casos?
  2. Como está o crescimento da epidemia em Alter do Chão, o maior pólo turístico da região Oeste do Pará, depois do fim do ano? Desde dezembro, quantas pessoas foram diagnosticadas com Covid-19? E antes de dezembro?
  3. Qual o perfil das mortes em Santarém? Quantos idosos morreram por Covid19? Qual a porcentagem de vítimas fatais mulheres, jovens e crianças?  
  4. Há alguma mudança no perfil de casos graves hoje quando comparado aos dados da primeira onda?
  5. Como está a situação em diferentes comunidades da Resex? Tem alguma comunidade em alerta depois do fim do ano?
  6. Para qual data está planejado o atendimento das comunidades ribeirinhas? 
  7. Quais informações coletadas da ação com "tratamento preventivo"? Quantas pessoas receberam o protocolo? Quantos pacientes tiveram efeitos colaterais?
  8. Onde a prefeitura divulga análises de especialistas e gráficos da evolução da epidemia em Santarém?
  9. Quantos representantes da sociedade civil fazem parte do Comitê de Crise? 
  10. Desde o começo da pandemia, quantas ainda são as mortes "suspeitas aguardando resultado"? 

⚠️ USE MÁSCARA - A COVID-19 NÃO TEM TRATAMENTO PRECOCE E PREVENTIVO APROVADO PELA ANVISA OU COMPROVADO CIENTIFICAMENTE

A máscara não te protege, ela protege o outro. Se você usa a máscara, é possível que você, se estiver infectado, não transmita o vírus para outros. Ao mesmo tempo, o melhor jeito de se proteger é usando uma máscara –porque assim os outros também usarão máscaras e você estará protegidos deles. – Zizek, livro Pandemic!

No mundo, a recomendação é para que todos usem máscaras com três camadas ou N95, porque o vírus está mais forte. Aqui, ainda há resistência no uso de máscaras. Não dá mais. Com a segunda onda, todos precisamos fazer nossa parte para conter a disseminação descontrolada do vírus.


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