Mais uma tentativa para implantar zona portuária na região do Lago do Maicá, uma área de proteção ambiental e de terras quilombolas. Recentemente empreendimentos imobiliários como o na região do Buriti foram impedidos depois de muita luta e intervenção do Ministério Público.
Por Caetano Scannavino, via Medium/Jornalistas Livres
Cabe lembrar que o documento final aprovado de revisão do PDP de Santarém reconhece sim a necessidade de se ampliar a infraestrutura portuária do Município. Ele mantém a ideia das três zonas, a começar pelas duas já operantes: a (I), da orla principal da cidade, “destinada ao turismo, projetos históricos, arqueologicos, pesca, embarcações de pequeno e médio porte, com trânsito intramunicipal”; e a (II), da faixa que vai da Av. Borges Leal até o limite da Área de Proteção Ambiental do Maicá, com foco maior no “transporte intermunicipal e interestadual de embarcações de carga e passageiros”.
A terceira zona ainda está para ser implantada, destinada a “empreendimentos de grande porte e maior impacto ambiental”. No Plano de 2006 também constava uma nova área portuária, na região do Ituqui. Dava-se inclusive um prazo de 24 meses para estudos, definições e detalhamentos. Só que de lá pra cá, nossas autoridades pouco fizeram para viabilizá-la, nem dentro nem fora do prazo. E quando fizeram, foi pelo caminho mais torto, através das insistentes movimentações em torno do Maicá.
Com apenas o terminal da Cargill na orla principal, é compreensível que os sojicultores da região pressionem por mais um porto pra que deixem de ser reféns de uma única empresa — há ainda o aumento da demanda, o asfaltamento da BR 163…
Foi sob esse entendimento que o Plano revisado de 2017 encaminhou o mapa do caminho para implantação da Zona III. A nova área portuária seria definida após estudo elaborado por grupo técnico multidisciplinar, formado por membros da sociedade civil e do poder público. Ao contrário dos 2 anos de prazo do Plano anterior, prevê 12 meses.
Se a Prefeitura tivesse sido mais ágil, se antecipado e instalado o Grupo, quem sabe já teríamos uma solução acordada e definitiva. Se alguns dizem Curuá-Una, outros Ituqui, o desafio é buscar as alternativas menos impactantes e mais inteligentes, no sentido de se implementar a infraestrutura necessária de forma planejada, para que não tenha depois que ser refeito num caminho sem volta.
Sendo de preferência numa região periférica, seguiria a tendência mundial de deslocar as zonas portuárias para fora dos centros urbanos, evitando o caos, a violência, o trânsito… Nada mal que se aproveitasse a deixa e pensasse em incentivos pra mudar também o Terminal da Cargill para lá, revitalizando a área ocupada pelo porto atual, transformando-a em espaço público nobre para usufruto de todos santarenos, a exemplo do que vem acontecendo em outras cidades.
Distanciar e ordenar as zonas dos grandes empreendimentos econômicos é fundamental, ainda mais para não comprometer uma região com potencial turístico gigantesco, geograficamente privilegiada, pronta para alavancar serviços de altíssimo valor agregado, valorizar as vocações existentes, qualificar a mão de obra local, atrair investimentos e tecnologias de ponta, bioconstruções, saneamento, energias renováveis…
Lago do Maicá | Foto: Nilson Vieira
Há espaço de crescimento para todos, grandes, médios e pequenos, sustentável ao longo do tempo, diversificado, sem necessariamente ficar lastreado apenas ao agronegócio — que por sinal não empregou tanto como o prometido. Continuamos com nossas 9 universidades formando gente que está pegando o avião junto com o diploma.
Se no Tapajós o tal progresso demora mais para chegar, que se comece pelo futuro, pelo que se tem de melhor, mais updated, pelos acertos, e não pela repetição dos erros passados lá fora.
É pequeno pensar em portos como fins, em ganhos a partir apenas dos que passam, seja pra entregar, seja pra levar mercadoria. Tão pequeno quanto é responder a isso aceitando qualquer oferta para instalação de indústrias pesadas e poluentes que outros lugares agora arrependidos querem se livrar. Por outro lado, a exemplo do EcoParque em Benevides/PA, não é proibitivo vislumbrar o polo santareno como um “Vale do Tapajós”, uma zona portuária articulada a uma planta industrial de baixo carbono, focada em inovação, pesquisa, tecnologia, biotecnologia, processamento de produtos florestais… Poderia inclusive contemplar zonas intermunicipais nos arredores da BR163, contribuindo como alternativa econômica que vizinhos como Belterra tanto procuram. E não serão nos portos de soja ou combustíveis em paraísos turísticos como Cajutuba que vão achar.
O que está em jogo não é o desenvolvimento, mas qual caminho seguir, se para muitos ou para poucos, se pra frente ou pra trás, se para passar ou para sempre…