Comunidade exige a desapropriação de terreno e a volta da Escola da Floresta, que promovia educação ambiental às margens do Lago Verde, uma área de proteção federal
Cacique Dengo da Aldeia Karanã
De Coletivo Muiraquitonas - Alter do Chão: Moradores da Área de Proteção Ambiental (APA) Alter do Chão, liderados pela aldeia Karanã, bloquearam a Rodovia Everaldo Martins (PA-457) na manhã desta segunda-feira, 11 de novembro, em protesto contra o desmatamento ilegal que avança sobre um terreno de 33 hectares às margens do Lago Verde. A manifestação pede que o governo desaproprie a área e devolva à comunidade a Escola da Floresta, um espaço onde, até o ano passado, eram realizadas atividades de educação ambiental para estudantes da rede pública, promovendo a conscientização sobre preservação e integrando o roteiro turístico da vila amazônica.
A Escola da Floresta funcionava desde 2008 em regime de comodato em um terreno do Conselho Nacional das Populações Extrativistas (CNS), com contrato renovável a cada cinco anos, o que deveria ter garantido a continuidade do projeto. No entanto, de maneira inesperada, o CNS teria colocado o terreno à venda no final de 2022. Estranhamente, a prefeitura alegou não ter sido informada da venda e tampouco tomou providências para adquirir o local.
Cacica Nalva e Professora Virgília Rodé em defesa de Alter
Em dezembro de 2022, um grupo de especuladores imobiliários comprou o terreno, comprometendo o status da área como Área de Preservação Permanente (APP), protegida por lei federal, além de território indígena onde fica a aldeia Karanã. Para a população, o valor ambiental e cultural da área deveria ter sido preservado pelo poder público, e o descaso gerou grande indignação. Lideranças comunitárias, como Laudelino Sardinha, conhecido como Laudeco, destacam que, há anos, a prefeitura vinha enfraquecendo a Escola da Floresta ao reduzir investimentos, o que abriu caminho para a venda do terreno a investidores.
Moradores fecham estrada para proteger Alter
A comunidade de Alter do Chão interpreta essa situação como mais um passo para transformar a vila histórica amazônica, que vai completar 267 anos, em um centro de especulação imobiliária, destruição ambiental e gentrificação. O grupo que adquiriu o terreno é o mesmo responsável pelo Condomínio Chão de Estrelas, um prédio de sete andares construído irregularmente na vila e alvo de ação civil pública por licenciamento ambiental fora da lei. A comunidade denuncia que esse grupo, formado por advogados e até políticos de Santarém, planeja construir um resort no local, que deveria ser um patrimônio natural e público. Uma ação já foi protocolado por moradores no Ministério Público.
Indignada com a inação do governo municipal, a população apela agora ao governador Helder Barbalho para que intervenha e desaproprie o terreno, assegurando a preservação do Lago Verde e o retorno da Escola da Floresta. Após um ano de cobrança por medidas efetivas, a situação se agravou com o início do desmatamento ilegal no local, transformando-o em um novo alvo do mercado imobiliário. A comunidade alerta que a devastação e privatização dessa área representam uma grave ameaça ao equilíbrio ambiental e ao modo de vida local e exige, portanto, uma resposta urgente das autoridades.
Muro construído por grupo de especuladores imobiliários em desrespeito à APA, a APP federal e à vila de Alter do Chão