Em meados do século XIX, ao passar por Alter do Chão em sua célebre viagem pela Amazônia, Henry Bates descreveu a antiga missão dos Borari como uma vila decadente composta majoritariamente por mulheres e crianças em situação de extrema pobreza. Os homens em idade adulta quase não existiam no lugar pois haviam participado das incursões Cabanas contra Santarém e por consequência, massacrados durante a guerra (1835-1840). Teria aquele momento da história decretado o fim do povo Borari?
Longe disso. Se por diversos motivos o povo Borari de Alter do Chão foi obrigado a manter sua identidade indígena camuflada nas figuras de ribeirinhos ou caboclos, no início do século XXI por meio de um processo de autoidentificação étnica, busca uma afirmação identitária que, alicerçada na luta em defesa de sua territorialidade, vai muito além, e visa o reconhecimento de pertencimento a uma coletividade socioculturalmente diferenciada.
Como forma de afirmar essa identidade indígena, o povo Borari das aldeias Alter do Chão, Caranã e Curucuruí, estará organizando nos dias 12 e 13 de dezembro, em Alter do Chão, a I Assembleia Geral Borari. Intitulado “Em defesa de nosso Território”, o evento discutirá a organização política do Povo Borari das comunidades Alter do Chão, Caranazal e Curucuruí, assim como a atual conjuntura da política indigenista oficial voltada ao povo Borari nas áreas da Territorialidade, Educação, Saúde, Economia e Sustentabilidade.
As discussões da Assembleia estarão voltadas para as perspectivas de futuro para o povo Borari, norteados pela organização de estratégias de defesa de nosso Território que tem sido alvo de recentes ataques por parte de empresários do ramo imobiliário e de setores do poder público.
Durante a assembleia pretendemos mostrar que para nós, Borari, a afirmação da identidade indígena não corresponde apenas a uma atitude utilitária, visando a garantia do direito à posse de nosso território, e sim a afirmação de nosso pertencimento a um povo, a um lugar e a uma luta. Portanto, outro ponto central da Assembleia será a afirmação da presença física e cultural dos Borari na região, presença que sempre existiu, mas que foi por um longo período invisibilizada, pelas diversas formas de perseguição, agressão e opressão impostas aos Borari ao longo de séculos. Na assembleia o grito de “nós sempre estivemos e estaremos em nosso território” será ecoado.