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George Borari fala sobre a importância da Educação Indígena

George Borari fala sobre a importância da Educação Indígena
Ediane Borari
mai. 9 - 4 min de leitura
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A luta por uma educação de qualidade e diferenciada tem sido uma luta árdua para as populações indígenas, principalmente quando se trata de inserir línguas nativas no curriculum escolar. Como direito constitucional, isso ainda é desafiador. O professor indígena George Borari de Alter do Chão, que dá aula na escola indígena Antonio de Sousa Pedroso, vai falar sobre a importância do ensino de Nheengatu, educação diferenciada e do Projeto Político Pedagógico Indígena (PPPI).

Ediane Borari: O que constitui a educação escolar indígena?

George Borari: A educação escolar indígena acontece em local determinado, como no barracão, numa maloca, na escola, em horários bem definidos. As aulas são dirigidas por professores formados, mestres em línguas indígenas e notório saber, ministradas preferencialmente em língua portuguesa, sendo distribuídas em diversas disciplinas de acordo com a estrutura curricular.

A escrita é privilegiada em relação à comunicação oral, característica dos povos indígenas. A escola indígena representa um marco importante nas aldeias que possuem alto contato com não-indígenas. Essas escolas representam a conquista de direitos e territórios, apesar das inúmeras barreiras impostas por governos e secretarias de educação, que desconsideram a necessidade de uma educação especifica bilíngue e de qualidade para atender a especificidade de cada comunidade indígena.
 

Qual é o maior desafio?

George Borari: Órgãos do governo exigem curriculum e organização similar à das escolas urbanas. Um dos maiores desafios tem sido a construção desses currículos  diferenciados para atender às necessidades da educação escolar indígena. Conforme visto nas palavras de Marta Coelho Castro Troquez (pós-doutora em educação, especialista em educação indígena e professora na Universidade Federal de Dourados), a principal reivindicação é incluir as línguas, as culturas e as identidades indígenas para articular no curriculum a seleção, organização e distribuição do conhecimento abrangendo o processo de escolarização.

Então, a educação escolar indígena se difere da educação indígena porque não se limita a esses conhecimentos "ditos" universais, esse conhecimento que está nas academias, nos livros, disponível a todos os brasileiros.

Qual a importância da língua nheengatu na educação indígena?

George Borari: A língua Nheengatu na educação escolar indígena é importante porque atende às reivindicações dos indígenas, como direito adquirido na Constituição Federal de 1988. Nela, a educação escolar indígena garante o direito de usar a língua materna, usar a língua indígena, os conhecimentos indígenas no curriculum no dia a dia da escola. 

O Nheengatu é uma língua indígena que esteve presente na região do Baixo Tapajós  e falada pelos antepassados. O Nheengatu está presente, não morreu, está vivo, na memória, nos nomes dos locais das comunidades. No nosso próprio vocabulário da língua portuguesa, muitas palavras estão escritas em Tupi, em Nheengatu e nós falamos no dia a dia.

Então, valorizar a língua indígena Nheengatu é um ato de resistência, de resgate, de fortalecimento da identidade indígena. O Nheengatu está presente na escola e, principalmente, na memória, na arte, na música, na literatura.  A nossa língua precisa ser amplamente divulgada/difundida para que ocupe um lugar importante, não meramente artesanal, mas possua um lugar na sociedade indígena, na sociedade, na escola. Que na educação possa ser útil e ter significado para o estudante. Qualquer língua indígena ensinada na escola tem essa importância para que na educação possa ser útil e ter significado para o fortalecimento da identidade indígena como direito conquistado pelos povos indígenas.

Qual a importância da ocupação de espaço por profissionais indígenas na educação?

George Borari: É extremamente importante que professores indígenas ocupem espaços na educação escolar indígena. Conforme Miguel Arroyo (doutor em educação e professor titular emérito da UFMG), a educação escolar indígena só vai acontecer quando a comunidade acadêmica for formada em sua maioria por profissionais indígenas, por professores indígenas e esses professores indígenas precisam ter formação para implementação de propostas políticas pedagógicas indígenas, materiais didáticos. Não tem como pensar uma educação de qualidade, bilíngue diferenciada e especifica para os indígenas, sem a presença profissionais indígenas nesses espaços nas escolas!


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