...e lá pelos tantos atrás
A floresta cantava,
A Curupira assobiava,
A mãe do mato gritava
E eu, criança, a tudo escutava.
Dormir com aqueles sons
Acordar com aquela sinfonia
Trazia pra dentro d’alma
Um sentimento de euforia
Que não era utopia.
Pai Marapuã e mãe Caípin
Protetores das matas e dos rios
Ecoavam seus cantos na copa das árvores
Filho Cauapê dedilhava notas nas águas
E a filha Yaciã o vento acariciava.
Aonde estão meus guardiões
Minha sinfonia afinada
O sol que me bronzeava
O piquiazeiro que me abrigava
E os rios que me banhava?
Meu pai, minha mãe, meus irmãos
Cadê vocês?
Esse canto não é o mesmo
É desafinado, sem acordes
Sem alegria.
É o ronco da motosserra
É o canto pavoroso das dragas
É o som de estampidos
É a fuga da mata
É o fim.
Grita por socorro esta terra
Ninguém ouve, ninguém quer ouvir
Irmãos filhos adotivos ouvem o grito
Correm a socorrer
Não conseguem, não voltam.
Pai Marapuã e mãe Çaípin
Filho Cauapê filha Yacyã
Ouvem um estampido
Tudo silencia
Tudo acaba.
Florestas caíram
Rios evaporaram
Animais desapareceram
Peixes contaminaram
As lagrimas secaram.
Uma homenagem à natureza e um pouco a Dom Phillips e Bruno Pereira
Gabriel Buchalle