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ENTREVISTA: "A Voz do Rio", novo álbum de Priscila Castro

ENTREVISTA: "A Voz do Rio", novo álbum de Priscila Castro
samara reis
mai. 29 - 7 min de leitura
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Entrevista exclusiva com Priscila Castro, cantora paraense e produtora cultural, que no dia 30 de abril, lançou o seu primeiro álbum “A voz do Rio”. O álbum contém 7 canções, reúne compositores(as) da cultura paraense, com a bela voz de Priscilla Castro. Um álbum com conteúdo de protesto, a força do feminismo, poesia e ritmos amazônicos.

“As barragens se apossando/ das águas de correntezas/ com a força da incoerência/ destruindo a natureza/ a paisagem transformada/ pela grande inundação/ o Rio Tapajós que chora/ e clama por compaixão’’, trecho de abertura da música a "A Voz do Rio" 

 

Priscila Castro nasceu na comunidade de Carariacá, na região do Arapixuna, no interior de Santarém. Morou lá até seus 12 anos. Começou a atuar profissionalmente em Santarém no ano de 2008, cantando em espaços culturais, universidades, e depois de um tempo em barzinhos. Ao longo da sua trajetória, começou a assumir uma postura mais regional. Hoje seu trabalho está focado na música feita na Amazônia, na música paraense, com ritmos latinos, todos misturados com a música indígena e negra. Priscila diz usufruir da mistura que a música paraense faz e diz que seu show resume o nosso povo, a nossa Cultura.  

Samara Reis: Por que "A Voz do Rio" foi escolhida como tema do álbum?

Priscila Castro: Eu conheci está musica em 2017 e, desde então, venho construindo a concepção deste CD. Eu queria muito que meu primeiro disco fosse a cara da Amazônia, mas não queria apenas falar das belezas naturais, mas do nosso povo e de nossos problemas. E como nós estamos neste contexto político, socioambiental, tão problemático, nós decidimos que "A Voz do Rio" iria nomear o disco, por estas questões, para que pudesse consolidar minha postura como artista e ativista.

S.R: Qual música tem um significado especial para você?

P.C: Tem duas que foram muito importantes: uma é "Merengueira", porque tem a Banda Warilou –gravar com essa banda tão importante para a cultura popular do Pará e do Brasil foi um momento muito importante na minha carreira, de muita emoção, porque são meus ídolos–, então eu ouço Merengueira, eu sinto o clima, eu fico com vontade de estar cantando com eles no palco; a outra que mexe muito comigo é "As Mulheres que Benzem", que é do meu amigo Wander de Andrade. Conheço essa música há muito tempo. Eu sou amiga da Adria Góes também (que participa da gravação), então temos boas histórias com essa música. Ela me remete muito a minha infância, a minha criação, a minha avó, ao cuidado maternal das mulheres da Amazônia. As demais são muito queridas também.

S.R: Como foi a sensação depois de 12 anos de carreira gravar o primeiro álbum?

P.C: Me senti muito feliz e realizada, porque qualquer pessoa que trabalha com arte, ela sonha em ver seu trabalho conectando com as pessoas, ampliando seu público. Ver seu trabalho em várias plataformas, que em qualquer lugar do mundo possa ser acessado. Foi o momento mais importante na minha carreira, foi o momento em que eu pude assinar como diretora artística. Isso foi muito importante, porque eu já fazia isso, mas a gente não costuma se olhar nesse lugar. E quando venho para gravar meu disco ao invés de contratar alguém, eu decidi que eu poderia fazer isso sozinha.

S.R: Se você fosse definir a Priscila Castro de 12 anos atrás e a Priscila que acabou de gravar seu álbum, como definiria? 

P.C: Quando eu comecei eu sempre fui sonhadora e corajosa, eu recebia críticas, mas não me deixava abalar. Continuo sendo sonhadora e corajosa, mas hoje me sinto mais livre para que eu possa assumir minha essência, minha identidade, e que eu possa cantar o que realmente gosto, assumir posturas políticas sociais que eu me orgulho. E não tenho medo nenhum de nada! Hoje me sinto mais forte. Esses 12 anos me deram mais incentivo e chão para tomar certas atitudes e posições.

S.R: Como foi a construção para se dedicar aos ritmos amazônicos?

P.C: Eu seguia uma linha de barzinho que cantava de tudo. Com o tempo, percebi que precisava selecionar para que meu público pudesse se identificar de forma mais direta, que pudesse me acompanhar aonde quer que esteja, e não me encontre hipoteticamente no barzinho que ele sentou para tomar uma cerveja. Então você vai construindo seu público. Eu percebia que eu não tinha esse público, era legal cantar para todo mundo, mas te deixa um pouco sem identidade. Quando você vai buscar sua essência, buscar as coisas que você ouvia na infância, na adolescência, na família, com os amigos, você percebe que ouvia sua música da Amazônia: lambada, brega, bolero, guitarrada… Ouvia muito Pinduca nas rádios. Então você percebe que tem uma cultura muito rica, que poderia explorar de muitas formas. Eu acho que faz 6, 7 anos que decidi cantar e meus shows são voltados para cultura paraense. E adoro essa escolha, não me arrependo nenhum pouco! Ainda continuo cantando, se alguém me chamar para ir no casamento, entre outros, mas os meus shows mesmo, que eu faço, com exceção que faço temáticos –dia dos namorados, que tem músicas românticas– os demais são sempre voltados para nossa música. 

                                       Foto: Priscila Castro em um de seus shows

 

S.R: Que mensagem você deixa para as pessoas que te acompanham?  

P.C: Primeiro, queria agradecer, porque tem sido muito legal o momento do CD. Foram dois momentos muito legais que eu ampliei meu público: quando o clipe foi para os Sons do Pará, que muita gente pode me conhecer, e agora com o CD. A minha mensagem é para o público valorizar os artistas da terra. Tem muitos artistas que a gente não conhece porque não está interessado, está ouvindo outras pessoas, outros famosos, dando engajamento para essas pessoas que já são milionárias e, às vezes, o artista local precisa só de uma atenção. Tem uma galera muito boa produzindo e a lei Aldir Blanc enfatizou ainda mais esses artistas. Se eu tiver algum conselho para dar, é que as pessoas se permitam ouvir mais os artistas da terra.

Serviços:

Canal do YouTube da Priscila Castro: https://youtu.be/t-usydTI3m0
Link do Spotify: https://open.spotify.com/album/2m9mNFSP6wE8CLQTxa7h5B?si=6i9T6_-MQ7CJpp27LktKNw


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