Por Luana Kumaruara
Nos anos de 2017 e 2018 o Conselho Indígena Tapajós Arapiuns (CITA) começou a trabalhar mobilizações de bases com mulheres indígenas. Foram eventos divididos em três etapas: a primeira na aldeia de São Pedro, no Rio Arapiuns, a segunda na aldeia Ipaupixuna, abrangendo a região do Planalto e Eixo Forte, e a terceira na aldeia de Solimões, para atender a TI Kumaruara e TI tupinambá. O objetivo dessas mobilizações era de fortalecer as organizações das mulheres, para participarem e estar mais presentes como protagonistas no movimento indígena, em momentos importantes de tomadas de decisões, saindo do espaço secundário do cuidado do lar e tendo voz efetiva no espaço ampliado das aldeias. Nos encontro tiveram oficinas de material de limpeza, de remédios caseiros (pomada e xarope), confecção de artesanato (com miçangas), palestras e debates com temas como violências contra mulher (com base Lei Maria da Penha) e outros direitos específicos para as mulheres, em especial as mulheres indígenas.
As Mulheres Indígenas da extensa região do Baixo Tapajós tem um histórico de mulheres aguerridas, desde que surge a primeira organização do movimento indígena, o Grupo de Consciência Indígenas (GCI), elas estiveram presentes com PARTICIPAÇÃO e VOZ, só, que de certa forma foram invisibilizadas pela pelos próprios companheiros de movimento, reforçando uma ideia de patriarcalismo, mesmo em comunidades indígenas em que a mulher tem grande importância política ao longo dos anos. Hoje, grande parte da participação social nas aldeias é delas, tanto nos cacicados, na função de curadeiras, educadoras, e outras posições estratégicas na luta do movimento social indígena.
Nos dias 03, 04 e 05 de agosto de 2018, foi realizada uma assembleia que reuniu mais de 100 pessoas, dentre elas mulheres indígenas, não indígenas, homens e crianças. O encontro ocorreu na Aldeia Açaizal, que pertence ao povo Munduruku e Apiaká do Planalto, etnia que vem travando uma árdua luta contra os chamados “sojeiros” naquela região e o interesses de grandes projetos como porto graneleiro para escoamento de soja. Estiveram presentes mulheres indígenas de dos territórios representados pelo CITA, da região do Eixo Forte (Alter do Chão), rio Maró, rio Tapajós, município de Belterra e Aveiro.
Além de debater e dialogar a atuação das mulheres nos espaços políticos, falamos sobre a violência doméstica, psicológica, de perseguição e criminalização de lideranças mulheres. Também foi demando a Demarcação de Terras Indígenas (sobretudo o pedido de GT para FUNAI de demarcação da Terra Indígena Munduruku-Apiaka do Planalto Santareno, onde ocorreu evento), e outros encaminhamentos de Saúde e Educação, pastas que correm sérios riscos de retrocessos em políticas públicas já conquistadas. A Assembleia foi realizada com intuito de ativar o Departamento de Mulheres do CITA que é responsável por mais de 8 mil indígenas.
Também foi decidido que haverá em Janeiro de 2019 o próximo Encontrão de Mulheres Indígenas, que será na aldeia Novo Gurupá- Rio Arapiuns.
As parentas eleitas para representar as mulheres no CITA foram:
Coordenadoras: Eli Tupinambá e Maura Arapium
Secretárias: Marcele Munduruku e Fernanda Borari.
Também foram indicadas Articuladoras por sub-regiões: Aveiro, Belterra, Eixo
Forte, Planalto, Maró, arapiuns e Tapajós.
Estiveram presentes psicólogas, enfermeira e um assistente do DSEI GUATOC que trabalham o programa Bem Viver, com ênfase, Saúde da Mulher e principalmente Saúde Mental das mulheres indígenas, em vista dos casos de homicídio e suicídio na região.
O que se espera é que cada vez mais as mulheres ocupem os lugares de fala e de representação no movimento indígena, bem como as profissionais das áreas de atuação com mulheres se envolvam com as companheiras indígenas da região. A programação encerrou com a Marcha das Mulheres Indígenas no Grito dos Excluídos!
SURARA! SAWÊ!