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Economia Solidária, uma alternativa humana, viável e oportuna

Economia Solidária, uma alternativa humana, viável e oportuna
Alberto João de Almeida e Silva
fev. 15 - 14 min de leitura
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Bastaram algumas horas do novo ano e percebemos –sem que fosse preciso muita perspicácia– que o marco temporal em nada muda a realidade se nós mesmos não a mudarmos. Com o amanhecer voltaram a fome, as dores, todas as nossas fragilidades humanas. Descobrimos que apesar dos fogos, o sol lançaria luz sobre o mesmíssimo mundo de horas atrás. Você vai dizer que a gente está mais cheio de esperança, de fé e que nossas ideias e projetos nos mantem vivos, também posso concordar com isso, mas qual é a mais preciosa lição dessa crise que estamos passando juntos? A pandemia deixa evidente a interdependência entre todos os seres vivos e o meio ambiente, ensinando sobre cooperação e equilíbrio.

@arvoreagua

A continuidade de tudo depende necessariamente do outro. Não há mais dúvidas que nossa forma de habitar o planeta deve ser repensada e reinventada. Dessa vez, não porque um grupo de intelectuais resolveu nos mostrar um relatório como “Os Limites do Crescimento”, de 1972. Aliás, hoje em dia, nem precisa ser cientista pra perceber que se não parar a sobrepesca, o peixe vai acabar nos nossos rios; que a derrubada de árvores está trazendo desconforto térmico; que os recursos hídricos são frágeis e estão cada vez mais ameaçados; que a especulação imobiliária está expulsando covardemente cada vez mais pessoas para lugares de esquecimento e abandono.

as projeções originais do modelo dos limites do crescimento examinaram a relação de uma população crescente com os recursos e a poluição. As projeções são bem precisas para o tempo atual

Como estão sofrendo os bairros periféricos de Santarém ou de Alter do Chão. Lembra dos igarapés urbanos como o Irurá? E dos não tão urbanos como o Sonrisal ou o São Brás? Lembra da última vez em que se viu à mesa com sua família entorno de um belíssimo tambaqui? Quem sabe já nem reconhece às margens das nossas rodovias... Então, você me entendeu. Se veio até aqui, te convido para darmos um pulinho mais adiante.

 

Um outro mundo é possível e uma outra economia também

Você com certeza já ouviu falar de Economia Solidária, mas é preciso separar esses termos para que se tenha uma compreensão mais nobre e verdadeira do que realmente falaremos aqui.

ECONOMIA é o conjunto de atividades desenvolvidas por pessoas visando a produção, distribuição e o consumo de bens e serviços necessários à sobrevivência e à qualidade de vida. Essa é uma definição básica. Quanto à etimologia, a palavra “eco” vem do grego oikos e significa “casa, lar, domicílio, meio ambiente” e “nomia” significa cuidar, por tanto cuidar da casa, da cidade, do meio ambiente. Sim, pode também ser esse o significado da palavra economia.

SOLIDÁRIA pode significar auxílio mútuo, altruísmo, humanismo, caridade, generosidade e muitas outras, mas também significa corresponsabilidade, cooperação, coparticipação, participação, comparticipação. Portanto podemos dizer que Economia Solidária é uma economia baseada em outros princípios que vão muito além da simples visão do lucro, do consumismo e do acúmulo. A partir daqui eu poderia enveredar por outros modelos de uma sociedade mais justa mas, peço licença, porque o objetivo do texto é despertar ideias e humildemente iluminar alguns caminhos. Por isso vou começar a nos aproximar de nós mesmos afim de enxergarmos algumas alternativas.

@arvoreagua

A ECONOMIA SOLIDÁRIA é uma forma de produzir, distribuir e consumir centrada no ser humano e com princípios diferentes dos da economia de mercado.

Na essência a economia solidária se opõe a exploração do trabalhador ao mesmo tempo em que reconhece o ser humano como parte e não o centro na natureza. Isto significa:

o máximo respeito ao meio ambiente em suas mais diversas dimensões, utilizando os recursos naturais de forma sustentável, opondo-se ao antropocentrismo, reconhecendo o equilíbrio natural conditio sine qua non para a existência do ser humano no planeta.

@arvoreagua

A economia de mercado tem como centro o lucro para o dono do capital, nela o trabalhador é somente uma peça da engrenagem ou um item na planilha de custos. Todas as decisões são tomadas pelo patrão, mesmo quando existe um funcionário para gerir, a última palavra sempre é do dono. Na economia de mercado não cabem todos por isso há tanto desemprego no Brasil e no resto do mundo, e quando se diz que é excludente, perversa e destrutiva, não há exageros, afinal é um universo frio e cruel de poucos vencedores e muitos vencidos.

Na economia solidária os empreendimentos seguem alguns princípios como: democracia, valorização do saber local, emancipação, justiça social, cuidado com o meio ambiente, centralidade no ser humano, valorização da diversidade, aprendizagem e formação permanente, dentre outros.

@arvoreagua

Muito mais que uma forma de produzir, distribuir e consumir, é também uma forma diferente de estar no mundo. Num momento de crises profundas e simultâneas com destaque para a crise sanitária mundial, é chegada a hora de cada um e cada uma se levantar e fazer sua parte.

 

O que já sabemos até aqui?

Existem políticos que não valorizam a economia local e colocam seus esforços e investimento público nas empresas de fora de forma “míope” e irresponsavelmente imediatista. Um exemplo fácil de notar em Santarém é o abandono das feiras e mercadões, enquanto atacadistas ganham força. A cada dia, ficamos mais reféns de produtos processados e que são produzidos em série, despersonalizados e a base de produtos químicos para garantir uma falsa durabilidade e maior lucratividade.

A justificativa do poder público era geração de emprego e arrecadação, mas essa é mais uma lição que a pandemia nos trouxe: quando entregamos nosso poder de produzir, ficamos à mercê do capital externo. Afinal, quem não se espantou com o aumento dos preços no dia a dia? Por mais abastado que seja, quem não sentiu a diferença brutal nos preços nos alimentos? O pior é se perguntar "na falta de produtos, a quem os supermercados atendem primeiro: a nós ou aos grandes centros de consumo do país?". Lembra de quanto tempo ficamos sem álcool em gel no início da pandemia?

@arvoreagua

Por outro lado é muito intrigante que tendo quatorze milhões de desempregados e mais um sem número de desalentados nos perguntemos como essas pessoas vivem? A resposta é simples, vivem da solidariedade e da união de grupos como as famílias, amigos e grupos de cooperação na realização de pequenos trabalhos, ou seja, a economia solidária já é praticada por muitas pessoas e também é a única alternativa que garante a sobrevivência nesse mar de abandono em que vivemos. Um exemplo muito comum é quando uma mãe solteira, vendedora ambulante deixa seus filhos aos cuidados da vizinha para poder trabalhar, garantindo com isso uma parte dos ganhos para o pagamento desse serviço, um outro caso são os puxiruns que também são uma forma de economia, é só lembrar dos conceitos de economia que foram falados anteriormente.

Se esse outro tipo de economia existe e é tão importante pra tanta gente, então porque não é incentivado como política pública?

Bem, essa eu vou deixar o (e)leitor responder.

A economia solidária não é uma política assistencialista e nem se propõe a atender somente pessoas extremamente pobres, como já foi dito é uma forma diferente de fazer economia, portanto cabe em qualquer área que possamos imaginar como o turismo, a artes em suas mais diversas expressões, na produção e comercialização de alimentos, roupas, artesanato, na prestação de diversos serviços, enfim... É também por isso que não se abre mão de novas tecnologias, inovação e financiamento público, afinal tudo isso pode ser usado de uma forma diferente onde a satisfação de alguns não venha em detrimento da vida ou da felicidade do outro.

Cabe então falar agora de algumas estratégias da Economia Solidária: feiras de economia solidária, clubes de troca, grupos de produção, associações, cooperativas, grupos de auto gestão informais, bancos solidários, moeda social, aplicativos para contratação de serviços e um sem fim de formas e maneiras de unir pessoas e alcançar soluções.

@arvoreagua

O grande diferencial da economia solidária é a formação de redes localizadas em vários extratos, ou seja redes locais em bairro ou bairros, comunidade ou comunidades, e até no município ou entre municípios, onde os empreendedores se reconhecem e passam a se fortalecer consumindo seus produtos com origem e que respeitam a cultura alimentar local, baseados em princípios éticos e que têm um alcance muito maior na função social, com muito mais capilaridade, distribuindo recursos, incluindo pessoas e gerando respeito, conhecimento e valorizando os saberes ancestrais.

@arvoreagua

Para muito além do que já foi dito até aqui, a economia solidária é responsável pela mitigação de problemas sociais graves como os preconceitos de gênero, racial, geracional e tem sido também uma excelente ferramenta de inclusão nas lutas por políticas antimanicomiais.

Uma rede de ECONOMIA SOLIDÁRIA se traduz em autorreconhecimento e gera autoestima valorizando o sentimento de pertencimento, é portanto mais uma vez uma forma diferente de ESTAR NO MUNDO, pois vai muito além de produzir, distribuir e consumir, afinal segurança alimentar e nutricional, valorização do ser humano, acesso a conhecimentos ancestrais e a preservação do planeta são algumas das vantagens que são entregues embutidas nos produtos e serviços.

@arvoreagua

Ambientes que se desenvolvem com base na economia solidária são mais ricos em cultura, diversidade e felicidade. Na prática, quando você compra um pãozinho numa padaria de um grupo de empreendedores da economia solidária você estará promovendo uma distribuição justa e equitativa dos resultados, tem a certeza que não está havendo exploração do trabalho infantil, que mulheres e homens recebem igual e justamente pelo mesmo trabalho, que existem ações para minorar os impactos ambientais da produção e muito mais neste simples ato de consumir um mero pãozinho.

Pronto! agora que já sabemos o que é, que é possível, necessária e premente para o momento, vamos responder à pergunta que não quer calar:

Como tornar a economia solidária factível? Ou como se diz por aí...como tirar do papel?

Pois bem, com certeza precisaremos de investimento para iniciar a organização, fazer diagnóstico, prognóstico, levantar cadeias produtivas, cadeias de valor, elaborar um plano de ação e executar. Mas onde está o dinheiro para isso? E como vamos acessar? Essa é outra resposta simples:

- No orçamento público!

Vamos dizer ao prefeito que nós queremos um Programa Municipal de Economia Solidária no orçamento público, um programa que dê oportunidade às pessoas de produzir, distribuir e consumir fortalecendo às comunidades dentro dos próprios espaços como bairros e comunidades, gerando alternativas baseadas em suas próprias potencialidades, longe dos grandes empreendimentos.

Agora é a vez dos políticos perguntarem:

Mas de onde vou tirar o dinheiro?

O Plano Plurianual que vai nortear os gastos públicos durante os anos de 2022 até 2025 será construído agora em 2021 e cabe a nós, o povo, dizer como queremos que sejam aplicados os recursos públicos, cabendo ao governo realizar consulta pública para ouvir a população, além de considerar suas promessas de campanha e o Plano Diretor Municipal.

Um programa precisa ter indicadores de resultados para que seja medida a sua eficiência e eficácia. Por exemplo, quantas pessoas serão beneficiadas e quais os resultados esperados? Um programa no orçamento público é muito mais que um projeto, são também outras ações, atividades e sua realização precisa de um plano de execução.

Vivemos tempos dificílimos, não tem sido fácil pra ninguém nem mesmo pensar em prioridades, gosto de pensar que o combate à fome e a luta pela dignidade se dá em muitas frentes, enquanto os profissionais dos serviços essenciais como saúde e segurança estão na linha de frente, nós podemos dar nossa contribuição para que dias melhores cheguem, mesmo que estejamos mais recuados.

@arvoreagua

É preciso lembrar que enquanto a pandemia não passa outros efeitos das desigualdades vão se agravando. A fome é uma dor que dói no corpo e na alma simultaneamente, nos deixa tão frágeis que a vergonha, das nossas incapacidades, humilha e oprime o espírito com uma força avassaladora, nenhuma pessoa deveria ver seus filhos chorando com fome.

Programa Municipal de Economia Solidária

Esse ano, a participação social vai se dar pelo site da prefeitura. Não concordo com a forma, mas vamos compensar com conteúdo. A página do o Plano Plurianual/PPA (2022/2025) de Santarém, tem um espaço para enviar sugestões. Vamos copiar e colar esse programa abaixo, enviar o link para nossos amigos, seguir até um pouco mais a frente e engrossar essas fileiras para que a população tenha direito à dignidade e a segurança alimentar.

AÇÕES E PROJETOS

CRIAR

  • Sistema Municipal de Economia Solidária, com:
    • conselho
    • fundo
    • conferência
    • plano
    • lei municipal
    • sistema integrado de informações
    • cadastro
  • Departamento específico para a economia solidária
  • Escola de Economia Solidária
  • Certificação e Sistema para rastreabilidade dos produtos da economia solidária (selo municipal)
  • Entrepostos de armazenamento e comercialização
  • Eventos específicos para empreendedores da economia solidária
  • Plataforma virtual com mercado online para produtos da Economia Solidária
  • Criar e financiar Bancos Comunitários em comunidades e Bairros, APOIANDO O MICROCRÉDITO SOLIDÁRIO e o CONSUMO LOCAL ATRAVÉS DA MOEDA SOLIDÁRIA

GARANTIR

  • Participação nas compras públicas, inclusive no PAA e PNAE - Alimentação Escolar.
  • Compra de parte da produção e distribuição de alimentos advindos dos empreendimentos da economia solidária, visando garantir a segurança alimentar de famílias fragilizadas.
  • Assistência técnica e cursos profissionalizantes para a auxiliar na produção.
  • Recuperação de ramais, vias de escoamento e transporte da produção e dos empreendedores para eventos, inclusive feiras e encontros que visem a comercialização de produtos e serviços.
  • Auxílio com apoio técnico os grupos de autogestão para o acesso ao crédito em instituições financeiras, garantindo capital de giro e compra de implementos e máquinas para pequenos negócios (máquinas de costura, despolpadeiras, desidratadores, congeladores, masseiras, estufas, fornos e etc.)

ADQUIRIR

  • Infraestrutura para feira itinerante (Barracas, mesas, balanças, banheiros químicos, lixeiras e outros)
  • Veículos (caminhões e utilitários) para transporte e apoio.

 


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