Por: Jackson Rêgo Matos, Dr. Ufopa/Alas/IHGtap
A Lenda da Cobra Grande, assim como tantas outras lendas amazônicas, continuam fascinando e encantando a muitos populares e estudiosos do Brasil e de todo o planeta. Desde de Cobra Norato de Raul Bopp até as lendas de Pajés e Xamãs como Seu Merandulino, Laurelino, Pedrinho do Curuai, Paulinho Borari e tantos outros da região e outros Estados Amazônicos estão enraizados no imaginário caboco e indígenas, com as mais incríveis histórias ligadas a Curas, Organização de Espaços, proteção do Meio Ambiente sendo contadas nos barrancos e beiradões dos rincões de nossas comunidades e cidades ribeirinhas e muito presente tanto na cidade de Santarém, como Alter do Chão, todo o baixo Tapajós e Amazonas, com alguns novos rezadores aparecendo, mesmo que ainda sem o devido reconhecimento. Mas qual a lógica e razão de tantos acontecimentos?
O escritor e poeta João de Jesus Paes Loureiro mostra que o devaneio e a contemplação da natureza cria uma poética imaginária que fez o poeta Santareno Ruy Barata montar em uma Cobra Grande e não se escanchar em puraqué. Potira contou ao seu amado Sebastião Teixeira sobre a M’boia do lago Juá que a agora imortal da Academia de Letras e Artes de Santarém imortalizou no Curimbó Chamegado, Calundum da Mboia, mostrando que qualquer coisa que aconteça ou falarem mal da moça, do vigário, do doutor ou do prefeito, é só levar para Cobra Grande do Juá que a nossa M’boia dá um jeito (dizem até que foi ela que engoliu os predadores da buruti), pois o Pajé lunático no aquático tribunal, devora réu que é mal e ao bom réu só o bem. Maria desafia se existe alguém com medo da cobra grande do Juá em Santarém e como Nietzsche afirmava que a essência da felicidade, é não ter medo, então podemos estar começando a desvendar este mistério pela lógica do não medo, do ser que só faz o bem.
O caboclo ribeirinho tem no Rio o seu grande Mestre onde de tudo se aprende, inclusive a ter o cuidado necessário para sua sobrevivência, havendo uma Ética de aprendizagem que se reflete na própria liberdade. Assim, nas águas de nossa infância, perdemos o medo entre o rebojo, como diz Eduardo Dias. - Quem quiser saber de mim, de onde venho pra onde vou, tem que primeiro aprender o que o Rio nos ensinou. Isto explica, como nossos ancestrais adentraram no mundo das lendas e viveram a verdade que é toda lenda, sem medo e de forma visceral. E qual a relação destas com Curas naturais?
Desde de criança, nascido e criado na beira do Tapajós perto de seu encontro com o Amazonas, pude ouvir e viver os mais incríveis milagres de curas de nossos curandeiros. Em Alter ouvi histórias de Seu Meranda como se referia seu Noca, nosso antigo Capitão do Çairé ao grande Pajé do Arapiuns. Contou-me de forma precisa, as mais incríveis façanhas deste que é considerado o maior de todos e de todos os tempos, pois Sacaca de nascimento, seu Merandulino desenvolveu o DOM da Cura, o que me foi confirmado pelo seu bisneto, Seu Salvador e vem sendo vivenciado agora por uma sua Tataraneta, mantendo esta tradição milenar de cura, também cutuada por seu Laurelino, o médico da floresta que foi seu aprendiz. Seu Merandulino, quando tinha alguma situação para resolver, entrava no rio, se engerava na Cobra Grande, ia para o mundo dos encantados que existe no fundo dos rios e de lá trazia a cura e saia de lá sequinho sequinho com sua roupa engomada.
Esta forma de trabalho de cura, adquirida de forma que a ciência ocidental não consegue explicar, vem sendo trabalhada nos meios científicos, criando a Medicina Quântica, a Medicina do Futuro, sendo que ao invés de modernos aparelhos tecnológicos, nossos velhos, precisavam purificar-se com o ar, o fogo, as águas límpidas, o solo e o pensamento. A lógica deste novo conhecimento, que se desenvolve por meio de frequências, ondas, cores, ressonâncias e aplicação de energia positiva, é o método usado por nossos Mestres da medicina popular amazônica que para curar alguém, muitas vezes desenganadas pelos médicos, adentravam no mundo dos encantados, dos Sacacas que nasciam com o conhecimento da Sacaqueira que segundo Osmar Vieira, é a planta/árvore que tudo cura, sendo esta a base da cultura amazônica que relaciona biodiversidade e viagens transcendentais, mas para dentro de si mesmo.
Este conhecimento precisa ser valorizado e vivenciado, com políticas públicas e respeito a dignidade de quem o detêm e a devida interação com mundo moderno de igual para igual. No estado do Amapá, o museu Sacaca é um dos mais avançados centros de pesquisa que envolve o conhecimento cientifico com o saber tradicional, criando muitos remédios que curam as mais diferentes doenças, a um preço acessível a todos nós simples mortais. Quantas árvores Sacacas e quantas pessoas Sacacas temos entre nós. Eis os segredos que cada um do nós pode ajudar a desvendar.
Boa viagem, sejam bem vindos ao mundo quântico da Cobra Grande, que já fez seu banzeiro como canta Chico Malta para todo mundo girar e dançar.
Xilogravura de Alexandre Przewodowiski