À Prefeitura de Santarém,
À comunidade de Alter do Chão,
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade nos termos seguintes:
IX – é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independentemente de censura ou licença.
CONSTITUIÇÃO FEDERAL
Somos artesãos e artistas de rua, moradores de Santarém e Alter do Chão, temos família para sustentar e saímos todos os dias para trabalhar, debaixo de sol e chuva. Na vila, nossos filhos frequentam a escola, o posto de saúde e o transporte público. O dinheiro do nosso trabalho é gasto nos mercados, no posto de gasolina e nos mesmos impostos pagos por todos os comunitários.
Ainda assim, todos os anos na alta temporada, a comunidade de Alter do Chão não abre diálogo conosco e busca apenas remover a cultura de artesãos dos espaços públicos. Este ano de 2019, a comunidade chamou uma reunião em que, de fato, alguns de nós foram convidados. No entanto, pelo clima de preconceito e discriminação que vemos em redes sociais e na fala de autoridades, sentimos receio de participar.
Esse preconceito nos constrange nos espaços públicos. Chegam a ignorar o trabalho que fazemos manualmente, divulgando a cultura de vários lugares do Brasil, para sermos acusados até de vender drogas. Nesse sentido, nos sentimos mais seguros agora com a instalação da câmera na praça, que desincentiva atos de violência e dissipa boatos infundados que nos envolvem em tráfico. Reconhecemos que pessoas de nosso grupo podem ter problemas com entorpecentes, como qualquer comunitário de Alter do Chão, não sendo exclusividade dos artesãos a dificuldade de lidar com vícios que prejudicam famílias e comunidades.
Apesar disso, agradecemos a comunidade de Alter do Chão por abrir a discussão sobre o uso da praça Sete de Setembro. Alguma organização do espaço na área pode beneficiar artesãos comunitários, artesãos visitantes, turistas e o restante da comunidade. Somos a favor dessa organização, estamos dispostos a contribuir para a manutenção do espaço junto à Prefeitura, inclusive na maneira de lidar com os artesãos visitantes. Para ser justo, um espaço rotativo para esses visitantes deve ser incluído no planejamento da área.
Não somos inimigos de Alter do Chão. Podemos ter diferenças culturais, mas somos mães e pais de família que também buscam o respeito e a preservação da natureza que tanto abençoa esta terra. A beleza deste lugar nos encanta, nos fornece matéria prima e nos permite viver na harmonia de nossa filosofia. Não punam um grupo inteiro por atos de indivíduos que não nos representam.
No sentido de abrir o diálogo, solicitamos:
- Uma reunião com a Prefeitura para o planejamento conjunto do espaço de exposições dos artesãos moradores e visitantes.
- Apoio da Prefeitura para regularizar a carteira de artesão dos moradores.
- Compreensão da Prefeitura e da comunidade em relação aos artesãos, que enquanto não têm sua carteira emitida ou o espaço delimitado ainda precisam sustentar suas famílias.
Assinam os moradores