Em defesa do Rio Tapajós e da biodiversidade amazônica, um protesto com 13 povos indígenas saiu na sexta-feira 14 à noite e amanhecerá em bloqueio do rio com seus marácas, cantos, rezas, corpos pintados pra luta, faixas, arcos e flechas. O grito é se socorro pela da Amazônia e pelos povos que moram na floresta.
Por Raquel Tupinambá
Cansados de esperar pelos governos, o povo Tupinambá, decidiu fazer um ato a favor da vida, dos territórios, dos povos da floresta, cultura, diversidade e modo de viver. Pedem liberdade para usufruir do seu maior bem: oTapajós, para que os barcos, bajaras, lanchas, com todos os guerreiros, mulheres, pajés, anciões, jovens e crianças estejam livres e seguros para ir e vir.
Nosso povo depende do rio, para a nossa sobrevivência e das futuras gerações, lutamos contra toda a devastação trazida pelos grandes projetos, e empreendimentos: contra usinas hidrelétricas, mineração, agronegócio, hidrovias e portos graneleiros. Com o discurso de “trazer o desenvolvimento”, geram na prática, um genocídio lento e silencioso.
Nossa principal bandeira de luta, é a demarcação do território Tupinambá. A Reserva Extrativista Tapajós Arapiuns, criada entre o final dos anos 90 e início dos anos 2000, com mais de 677 mil hectares, passou a incluir uma série de territórios indígenas, cujos povos estavam em intensa luta por seus direitos. Quase 20 anos depois, entretanto, vários pedidos de demarcação já foram protocolados junto a Fundação Nacional do Índio – FUNAI e até o momento nenhuma providência foi tomada pelo governo, enquanto isso, o povo vem sofrendo todo tipo de ameaças.
O governo federal e seus aliados projetam a construção da Hidrovia Teles Pires-Tapajós, que escoará, pelo território do Pará, a produção de grãos do norte de Mato Grosso. A obra, orçada inicialmente em R$ 148 milhões, terá uma área de influência total de 1.576 km. Nesse percurso, a hidrovia passará por 5 territórios indígenas, além das Florestas Nacionais do Tapajós e Itaituba I e II, pela Reserva Extrativista do Tapajós, pelo Parque Ecológico Estadual Apiacás e pelo Parque Nacional da Amazônia. Diante dessa gigantesca ameaça a vida ligada ao nosso RioTapajós, nós povos tradicionais estamos em luta.
Munduruku do Alto Tapajós também fortalece a luta - foto de Rogerio-Assis/Greenpeace
CLAMOR DOS POVOS DO TAPAJÓS
Através da nossa cultura, nossa língua e nossa identidade, somos expostos a um governo irresponsável, totalmente impositor a seus projetos de morte que afetam nossos direitos de bem viver no nosso território.
Não aceitamos hidrovias no nosso rio, e exigimos nosso direito a consulta prévia, sobre qualquer empreendimento que venha nos causar prejuízos;
Manter o Rio Tapajós livre e vivo, é a nossa missão;
Que todos os povos indigenas e Ribeirinhos possam continuar se alimentando do rio Tapajós;
Que possamos navegar com nossas pequenas embarcações, sem correr o risco de sermos atropelados por balsas gigantes, carregadas com a madeira da nossa floresta;
Que sejam mantidos e protegidos nossos lugares sagrados, nossos encantados, nossa história, nossas crianças e futuras gerações;
Estamos na resistência pelo direito de viver;
Seguimos na luta!