Posso dizer pela Adriana e pela Manu. Não conheço muito bem as companheiras do Gustavo e do Daniel, nossos brigadistas de Alter. Mas fico aqui pensando como elas estão se sentindo agora, banidas de suas casas, de suas praias, do nosso riosão. Trabalho, rotina, amigos. Planos, conquistas. Faz alguns anos me senti assim também. Acabei saindo de Alter. Às pressas, sem planos. Esse pequeno conto, dedico à elas.
Acordo com meus olhos doendo. Algo que Alominha me passou. Aloma sofre de tudo. Tudo o que eu sofro na alma, ela sofre na pele.
Hoje amanheceu frio. Fecho a janela que ficou aberta durante a noite ainda quente. Meus olhos param no horizonte de casas. Choro, choro. Eu quero meu Tapajós! Eu quero minha floresta. Eu quero minha felicidade!!!! Choro, choro. Mas não posso chorar muito. Tie ja vai acordar. Me olho no espelho. Não está tão mal. Mais um pouco, e ele acorda também. Acorda bravo, chorando, fazendo birra. Eu quero iogurte rosa! Eu quero iogurte rosa! Vendo ele mal, me sinto melhor. Me sinto na obrigação de estar melhor do que ele, então ofereço, sem brigar, um chocolate quente. Ele demora mas aceita. Depois ofereço vamos plantar. Gosto da animação dele. Dou a faca perigosa na sua mão. Ele se sente orgulhoso. Ele planta a taioba. Vou melhorando. Depois ora-pronobis. Consigo pegar mudas da moréia que eu achei que nunca conseguiria. Elas saem fácil na minha mão, com raiz e tudo. Fazemos covas perto da porta de entrada. Ontem a noite pendurei dois vasos em suportes na parede. O tempo esquenta. Tie ri. Aloma come terra. Eu me sinto melhor.