- de Basel, na Suíça, onde Vandria Borari abrirá duas exposições de arte
Nossa Amazônia, a maior floresta tropical do planeta, é terra de seringueiros, quilombolas, pescadores, agricultores familiares e indígenas. Somos filhos e filhas desta terra sagrada, as águas e a floresta nos conectam, nos alimenta, nos acolhe e nos abriga. É este lugar que o mundo testemunha a destruição.
O desmatamento na Amazônia é uma realidade que consome vidas na floresta. Um estudo elaborado a partir dos dados oficiais do governo sobre o avanço do desmatamento, analisando dados do PRODES/INPE e feito pelo Instituto Socioambiental/ISA mostra que o novo arco do desmatamento concentra aproximadamente 75% do desmatamento da Amazônia e abarca uma região entre 256 municípios indo do Oeste do Maranhão, sul e oeste do Pará, passando por Mato Grosso, avançando a oeste para Rondônia e Acre. A expansão do agronegócio vem engolindo a floresta para dar lugar a milhares de hectares de plantações de soja para alimentar gado. Cerca de 95% da derrubada de árvores nas fazendas de cultivo do grão são ilegais mas, mesmo com clara evidência de ação criminosa, quase 60% da safra é comprada por duas gigantes americanas, a Bunge e a Cargill, que exporta 61% para China e 14% para União Europeia.
Não é somente a soja que desmata as terras indígenas, a criação bovina está intimamente ligada a toda essa destruição. Estudo do MapBiomas mostra que a Amazônia já perdeu cerca de 44 milhões de hectares para agropecuária em 35 anos. Dos 44 milhões de desmatados em 1985- 2020, 99% foi convertido para uso agropecuário, pois a floresta intacta vira pasto para a criação de gado.
Divulgado essa semana (outubro//21), estudo do Instituto Escolhas mostra que "se houvesse um país chamado Pecuária Brasil, com rebanho que chega a 218,2 milhões de cabeças de gado, seria o 20º maior emissor de gases de efeito estufa do mundo, equivalente ao que emite a Inglaterra (462 milhões de t de CO2e)". Pior, quem financia o setor da agropecuária e do desmatamento no Brasil são os bancos públicos, que dão subsídios para desmatar, ao mesmo passo que o atual governo premia desmatadores.
Crédito: Neila Borari
Com o desmatamento, a biodiversidade e nós povos da floresta perdemos nossos territórios. A cada instante rios e lagos são poluídos, as nascentes e igarapés secam. Nossas áreas sagradas e os sítios arqueológicos são destruídos, apagando nossa história e nossa memória deixada por nossos antepassados. A Amazônia é nossa espiritualidade, nossa ancestralidade e nossa coletividade. É a nossa arte do bem viver na floresta. E cada área sagrada que é destruída na Amazônia pela soja ou pecuária apaga nossa memória.
Sou artista residente do Culture Scape festival 2021 em parceria a LABVERDE Residência Artística na Amazônia, e estou com duas instalações artísticas, em Basel, na Suíça: "Resistência ancestral" e "Resistência do Maicá" justamente para abordar essa dinâmica da expansão da área da agropecuária na destruição da Amazônia, chamando atenção do mercado que fomenta, alimenta e abastece essa destruição. Ou seja, desde bancos que financiam até o mercado consumidor de produtos do desmatamento.
A primeira exposição com o tema "Vestígio do Colonialismo" é uma iniciativa da curadora de arte Camila Lucero Allegri . E a segunda exposição com a temática "Quilombo" é organizado pelos curadores Samuel Leuenberger e Benedikt Wyss, no espaco de arte Salts.
É preciso falar sobre isso e denunciar os responsáveis pela destruição da Amazônia; eles precisam ser responsabilizados. É preciso romper com essa devastação que tem impacto para os povos da floresta, que estão sendo dizimados, assim como impacto global, uma vez que o mundo todo hoje já sofre consequências das mudanças climáticas e o Brasil está se tornando um grande emissor de GEE devido ao desmatamento pela soja e pelo boi.