Tendo em vista que a pequena vila de Alter do Chão, no interior da Amazônia, onde nasci e me criei, ter, desde sempre, uma certa pujança cultural, vale a pena ressaltar o papel da brilhante instituição “Banda 29 de Junho” como parte da história da vila.
Desde muito criança, na companhia de minha bisavó Ermita Pontes Lobato ou professora Ermita, como é conhecida, eu frequentava a igreja de Nossa Senhora da Saúde e as quermesses da mesma. Então, ainda muito criança, via aqueles ilustres músicos, inclusive meu pai, apresentarem-se nas festividades dos calendários cultural e religioso da vila. Todos faziam parte de uma mesma instituição, a “Banda 29 de Junho”, que recebeu esse nome por conta da sua primeira apresentação ter sido realizada no dia 29 de junho de 1919, no dia de São Pedro. A banda, que sempre teve caráter comunitário, foi fundada pelo professor e trombonista Juvêncio Navarro com a ajuda de alguns comunitários.
Eu sempre acompanhava a performance deles de olhos vidrados e ouvidos atentos. Sabia, desde os 7 anos de idade, seu repertório decorado e, com 9 anos, pela influência do meu pai, Cleidinaldo Wanghon Sardinha ou Nado, como é conhecido, já levava o meu tarol para as procissões e os acompanhava de ouvido. Por conta da pouca idade, nunca tive a oportunidade de aprender a teoria musical na banda como o meu tio Járlio Lobato ou como o Sérgio Corrêa. Quando cresci, o meu bisavô, Oscar Lobato, maestro e professor da banda, já estava acamado e sem poder dar aulas como fazia em meados dos anos 90. Mas sempre falo que fui formado de coração pela “Banda 29 de Junho”, a qual formou as cinco gerações de músicos de sopro de Alter do Chão. São tantas as memórias vividas por mim quanto as que escutei dos antigos nesses meus 19 anos de vida. Só tenho a agradecer à banda e a todos e dar parabéns aos seus 103 anos de vida.
Anteontem fizemos uma verdadeira volta ao passado. A banda ficou dois anos sem tocar nas procissões da vila por conta da pandemia e voltamos em um dia mais do que especial. Retornamos à cena no dia 29 de junho, data do aniversário de 103 anos da banda. A emoção ao tocar aqueles lindos dobrados e o público atento a cada nota que dávamos em nossos instrumentos. Toda aquela energia e boa vibração fizeram-me lembrar quando eu tinha sete anos de idade e acompanhava a apresentação da banda e quando a dona Heloísa Sena subia na escadinha do convés do barco e fazia o sinal de positivo para que a banda tocasse um novo dobrado.
Nessa última apresentação estava o meu pai, Nado, no tarol, Sandro no bumbo, Serginho no sax alto, Sandrinho no sax tenor, seu Zé Alfredo no sax alto e eu no trompete. Vale ressaltar as participações do Sr. Jorge Diniz no afoxé e do Sr. Wilson no som. Foi magnifico. Uma mistura de alegria e nostalgia. Realmente, a música tem essas sutilezas.
Saxofone alto, Sergio Correa - saxofone tenor Sandrinho Branco - Bumbo Sandro Branco - Saxofone alto Seu José Alfredo - Trompete Jorginho Borari
Caixa, Nado Von - Bumbo Sandro Branco
Seu Wilson - Afoxé, Seu Jorge Diniz -