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Novo coronavírus no Baixo-Tapajós

Novo coronavírus no Baixo-Tapajós
Conselho Indígena Tapajós-Arapiuns
jun. 2 - 4 min de leitura
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Nós, Arapyú, Apiaká, Arara Vermelha, Borari, Kumaruara, Maytapú, Munduruku, Munduruku Cara-Preta, Tapuia, Tupaiú, Tapajó e Tupinambá, somos povos indígenas da região do Baixo-Tapajós, vivemos constantes ameaças por conta das riquezas ambientais e paisagísticas e, há mais de 60 dias, convivemos simultaneamente com outro inimigo comum, o novo coronavírus. Trata-se de desafios potenciais que ameaçam diretamente a vida indígena em sua integralidade.

Desde o primeiro caso do novo COVID 19 aqui na região, ocorrido em meados do mês de março de 2020, seguimos com o aumento de casos tratados muitas vezes com invisibilidade, dado a fatores de condições geográficas e estruturais que fazem de nós, seres desassistidos por uma política pública integradora e transparente. Já não é novidade ouvir parentes morrerem por falta socorro, assim como não é novidade a ausência de dados de nossa região nos boletins epidemiológicos da secretaria especial de saúde indígena-SESAI. E quando adicionados a outras questões pertinentes, como a situação de indígenas em contexto urbano, indígenas que estão fora do sistema da saúde indígena, e indígenas em situação de subnotificações, a situação se agrava e acabamos ficando desgastados com as situações acontecendo, quando poderíamos ter serviços de atenção básica constantes e eficientes para tratar os casos diagnosticados com melhor atenção. Como lidar com isso? Estamos apelando para todos os lados, nossa alternativa é buscar socorro e assistência aos parentes que estão adoecendo, tem dias que dormimos pouco e acordamos mal por saber que algum parente está em situação grave ou morreu. Ficamos com sentimento de impotência e que dirá, entregues à própria sorte de vencer o vírus com a resistência imunológica, que historicamente não temos.

Não diferente, outra realidade que ganhou bastante repercussão, foi a fala do ministro do meio ambiente, Ricardo Salles, quando parafraseou durante a reunião interministerial é uma “oportunidade” para “ir passando a boiada” se referindo ao afrouxamento/desregulação através de mudanças na complexidade da legislação do meio ambiente aproveitando que o foco de cobertura da impressa está voltado para a pandemia. A fala de Salles interligada no sentido literal, podemos dizer que sua boiada, retrata a própria coexistência das ações reacionárias da bancada do agronegócio no parlamento brasileiro na disputa por terras da união, sua instabilidade e constantes confrontos entre os requerentes, fato que realça a morosidade do Estado na mitigação dos sofrimentos dos povos indígenas mediante a tomada à força da terra através de práticas recorrentes de perseguições com a grilagem de terras, desmatamento e comercialização de madeiras ilegais, de terras indígenas consideradas lugar de vida e pertença ao mesmo tempo tão castigados pelos seguimentos do poder econômico nacional e mundial.

Pois bem, a pandemia e a passagem da boiada de Salles, nos mostram a truculência de dois fatores nocivos à vida indígena no Baixo Tapajós, uma por causa não determinada e outra por motivação de cenários políticos. A incapacidade das esferas públicas em lidar com o crescimento da epidemia na região não difere da incapacidade do governo federal em proteger os brasileiros.  

O governo precisa acordar para as vidas que estão sendo ceifadas, para os povos indígenas que hoje são minorias quantitativas que reforçam a importância de um sistema que agregue valores de respeito com o mínimo de planejamento estratégico de prevenção e combate ao novo coronavírus, e de seriedade ao tratar de temas tão sérios, como o meio ambiente, a “nossa casa comum”.

Precaridade no sistema de saúde no Município de Santarém

Até que haja capacidade de atendimento para todos indígenas e populações tradicionais do Baixo Tapajós, até que comunidades ribeirinhas tenham condições de atendimento de casos graves, é necessário o lockdown nas comunidades. Se não temos força pra combater o discurso que circula nos centros urbanos, que todas as comunidades do Baixo Tapajós se unam para se proteger diante da invisibilização e esquecimento dos 13 povos indígenas do Baixo-Tapajós durante a pandemia

Vandria Borari
Assessora jurídica da Associação Iwipurãga do Povo Borari de Alter do Chão

Anderson Tapuia
Tesoureiro do Conselho Indígena Tapajós-Arapuins (CITA).


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