O BOTO - Alter do Chão
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Olhar de Boto: uma super produção Made In Alter do Chão

Olhar de Boto: uma super produção Made In Alter do Chão
Jackson Rego Matos
out. 22 - 4 min de leitura
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Em 2017, uma roda de conversa no Sesc Consolação, em São Paulo, falou sobre a percepção que traz o filme Olhar de Boto e sua interação com o público. Estavam presentes os diretores, participantes e o público que foi ver o filme. Exibido numa tela gigante de 16m de comprimento e 8m de altura, em espaço totalmente ambientado e sonorizado com clima amazônico,  o filme surpreendeu, impactou, tirou da linha de conforto todos os presentes. Cada espectador foi convidado a mergulhar em cena, pois o público viu ao filme de dentro de uma piscina que até lembrava o rio Tapajós em plena selva de pedras. Foi estabelecida ali, uma imensa instalação contemporânea de artes visuais.

José Roberto Aguilar e Gregório Gananiam trazem a vivência prática com as lendas, as crenças, os mitos, a cultura de dentro da própria  floresta onde o filme foi produzido, ao convidar o espectador a ver o que acontece com os olhos do boto, ouvir as falas como se fosse boto, sentir o tempo como um ser amazônico. O tempo do boto, o tempo do encantado.


As cenas fluem no fluxo das águas e o místico brota do sagrado que se expressa no longo olhar de seu Angelo, eterno companheiro de Dona Raimunda, sacaca que se encantou cedo demais, mas deixou nos gestos associativos dos comunitários da vila a delicadeza da força da união que constrói a belíssima festa do “Çairé”. A saudade explode de dentro do olhar e até dos que não a conheceram. 

O suspense permeia poeticamente dentro de uma atmosfera que traz a expressão do espírito de quem sente o que o outro sente, com Chico Malta e Hermes, seu Osmarino do inesquecível Movimento de Roda de Curimbó em cena, que juntos com a sensualidade não vulgar da cabocla  Bruna, mostram o que é encantar e ser encantada pelo Boto. Assim, as pessoas, às festas e as cenas do festival dos botos, expressam algo maior que nos leva a buscar explorar nosso espírito, em busca de poder se identificar com a realidade dos encantados.


Com direção de campo de Daniela O.M.M e apoio de minhas pesquisas e vivência prática com o mundo dos encantados, o som belíssimo marca cenas do filme e da câmara de Bruno Rico, acontecendo a percepção ativa e a ação interna com o estímulo do externo das imagens. A frequência sonora que começa no acolhimento de entrada e nas cenas, entre falas e som das águas, são incrementadas pela percussão inconfundível de Helder Gama, nosso percussionista Catraca que melhor retrata a essência dos ritmos do Tapajós. O som se integra com a própria frequência deste mamífero, que é o cantar dos botos.

Nesta primeira edição do festival ainda em formação, que a sensibilidade de outras mãos como a de Tisuka Yamasaki possam sentir  a floresta, a biodiversidade e a cultura que inclua o olhar popular, o olhar artístico e o olhar científico de quem vive no cotidiano, a verdade das crenças do povo daqui. Assim juntos, buscaremos saber refletir, qual o dialogo com diferentes perspectivas de visão, precisa ser definido para a nossa Amazônia, conhecendo o sentimento do outro, animal, vegetal e ribeirinhos que precisam do respeito sincero e de mãos verdadeiras, comprometidas, vivenciadas longamente. 

Para quem não pode ver e perdeu essa produção, busque saber sobre esse filme e experiência de mergulho no cinema. Descobrir o que é a singularidade do sorriso de dona Raimunda e seu poder mitológico de cura dos encantados, com muita música e novas cenas geniais do olhar do Aguilar sobre nossa cultura, amores e comunidades.


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