O Papa Francisco classificou recentemente a oposição à vacina contra a Covid-19 como ‘negacionismo suicida’ e ressaltou que tomar a vacina é uma escolha ética essencial para proteger vidas.
Embora particularmente acredite que o suicídio é um ato legítimo, também é solitário, motivado, geralmente, por dores profundas da alma. No que se refere à pandemia, a propagação desse negacionismo se traduz em outro termo, homicídio. Afinal, se a minha especialidade são batatas, não me atrevo a opinar sobre a rebimboca da parafuseta do motor de avião, a não ser que estude profundamente o assunto.
A proliferação de discursos negacionistas desconsidera os argumentos científicos apresentados pelos especialistas, cientistas e instituições referência do mundo todo, que trabalham em busca de uma solução para conter o novo coronavírus e evitar mais vidas perdidas.
Associado a esse pandemônio – palavra que, nesse caso, carrega dois dos seus significados, confusão e associação de pessoas para praticar o mal ou promover desordens e balbúrdias – vêm as teorias da conspiração, a crença nos milagres promovidos por medicamentos preventivos e a ausência de campanhas de conscientização pelo governo federal.
A ampla divulgação pelas redes sociais sobre a eficiência do antiparasitário ivermectina contra a contaminação pelo vírus, contribuiu para que centenas de pessoas, achando-se protegidas da doença, negligenciassem cuidados básicos como o uso de máscara e álcool. Após o consumo inadequado do medicamento, passaram a viver como se a pandemia fosse história passada ou ficção, frequentando de shoppings a praias e baladas.
Como consequência a Covid se espalhou ainda mais, com ocupação total de leitos hospitalares em diversos estados, enquanto a curva de mortes provocadas pelo vírus segue em ascendência.
Entenda melhor a novela ivermectina
A ivermectina começou a se tornar conhecida a partir de um estudo feito por pesquisadores da universidade australiana Monash Univeristy. Esse estudo, no entanto, apesar de demonstrar atividade antiviral, foi realizado in vitro, em cultura de células animais. O comportamento do medicamento no organismo humano é bastante diferente.
Entre os estudos posteriores, realizados por amostragem com voluntários, por exemplo, apenas 6 (seis) comprovaram algum resultado positivo, com a ressalva pelos próprios autores, de que são necessárias mais pesquisas para que exista validação da comunidade científica e dos órgãos competentes. A Monash Univeristy, inclusive, publicou um alerta em seu portal : ‘a ivermectina não pode ser usada em humanos, assim como ainda não teve o potencial comprovado e depende de mais estudos’.
Além disso, nem a dose máxima recomendada para o uso do antiparasitário resultaria em algum efeito, uma vez que a quantidade necessária, mesmo nas células animais testadas in vitro, é o equivalente a uma overdose, nesse caso, com sério comprometimento do organismo humano.
Portanto, até o momento não existe nenhum medicamento eficaz para evitar a infecção pelo novo coronavírus ou garantir que os sintomas sejam leves se a pessoa for infectada, ao mesmo tempo, ela também continua a espalhar a doença.
A única solução para atenuar a pandemia é a vacina. As vacinas já possibilitaram a erradicação completa de doenças como varíola, poliomielite e tétano, que levaram à morte ou incapacitaram milhões de pessoas e, quase totalmente de outras, como o sarampo e a difteria.
Independentemente de promover ou não a imunização total, a vacina contra a Covid evita a disseminação e os sintomas mais graves da doença, diminuindo, assim, os casos de internação e morte. O que já é muito em tempos tão sombrios.
Quem sabe, em breve, a partir da realização de mais estudos, a eficácia da ivermectina possa ser efetivamente comprovada, ajudando na luta contra o vírus. Até que isso aconteça, a única saída é vacinar e continuar a manter os cuidados.