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A voz das mulheres no Acampamento Terra Livre 2021

A voz das mulheres no Acampamento Terra Livre 2021
Vandria Borari
abr. 26 - 4 min de leitura
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No Abril indígena, entre os dias  5 a 30 de abril, acontece a maior mobilização de luta dos povos indígenas do Brasil, o "Acampamento Terra Livre(ATL)",  evento que reúne  lideranças indígenas de todo o país, que organizam estratégias de denúncia e responsabilização das violências cometidas contra seus direitos pelo Estado brasileiro. Na edição de 2021, em decorrência da pandemia do COVID-19, o evento  acontece em formato online e trouxe como tema  "Nossa luta é pela vida, não é apenas um vírus". O  ATL 2021, também ocorreu em outras regiões do Brasil,  em destaque, na região do Baixo-Tapajós, no Oeste do Pará, uma mobilização local que contou com a participação de homens, mulheres, jovens e anciões,  representantes dos povos Arapium, Apiaká, Arara Vermelha, Borari, Jaraqui, Kumaruara, Maytapu, Munduruku, Munduruku Cara Preta, Tapajó, Tapuia, Tupayú e Tupinambá.

Baixo-Tapajós

Com o tema " A pandemia vai passar, mas a boiada aqui não passa", o Baixo-Tapajós  organizou atividades online e levou uma delegação de lideranças rumo a Brasília que denunciaram  a tramitação do Projeto de Lei 191/2021, que permite a exploração de minério em terras indígenas;  e a visita do Ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, na região da Cachoeira do Aruã, Rio Arapiuns,  Município de Santarém, Oeste do Pará,  para  favorecer madeireiros e ainda de integrar uma organização criminosa envolvida num esquema de receptação e crimes ambientais.

 

Na região Arapiuns,  a Polícia Federal (PF) realizou a maior  apreensão de madeira na história do Brasil: mais de 200 mil m³ de madeira , equivalente a 65 mil árvores derrubadas. O delegado da PF, Alexandre Saraiva encaminhou ao Supremo Tribunal Federal uma notícia-crime contra o Ricardo Salles por atrapalhar  o trabalho da PF e por promover a defesa de infratores ambientais.

Região do Baixo Tapajós é conhecida pelo protagonismo e  articulação das mulheres indígenas que estão a frente das lutas e  levam a voz do Tapajós.  Em destaque, Auricélia Arapium, do povo Arapium, é liderança indígena e Coordenadora do Conselho Indígena Tapajós-Arapiuns (CITA).

                 Auricélia Arapium, Imagem: Reprodução/Instagram

"Queria saber se o Presidente da Funai, delegado Xavier, se Ele tem coragem de vender a mãe dele? Porque nós Povos indígenas não vendemos nossa Mãe Terra!", Auricélia Arapium.

 Para a coordenadora do CITA,  a presença do Baixo-Tapajós no ATL é muito importante, "porque viemos mostrar a resistência dos povos do Tapajós, trazer nossas reivendicações e indignação frente todas as ameaças que o Governo  Federal e outros setores do governo tem interesse dentro de nossos territórios para levar a mineração, expandir o agronegócio dentro de nossos territórios, legalizar a madeireira dentro da região do Arapiuns, das madeiras que foram apreendidas. E dizer não a mineração, não ao desmatamento, não ao Bolsonaro, não à Salles".

Imagem: Esplanada do Ministério, Brasília 2021.

Auricélia destaca que a atuação da mulheres nesse movimento de luta é muito importante porque são guerreiras que inclusive a delegação do Baixo-Tapajós na maioria são mulheres, são guerreiras de berço. E as mulheres tem o dever muito importante de defender a Mãe, de defender os filhos. E isso nós herdamos da Mãe Terra.

A gente luta pela terra porque ela é nossa Mãe. Assim como nós lutaríamos para defender nossos filhos, nós lutamos para defender nossa mãe, pra defender Ela. É uma troca. Ela nos defende. Ela nos alimenta, damos e retornamos à Ela dessa forma, de lutar pela vida".

No Abril indígena, em que os povos do Brasil se mobilizam  para denunciar as violações de seus direitos, a estudante de Direito deixa sua mensagem para o mundo:

"Como diz uma de nossas frases a Mãe do  Brasil é indígena. Então, não adianta a mãe do Brasil ser indígena, se o próprio Brasil está matando sua mãe com todos esses projetos de morte. Matar a floresta, matar o rio é matar a vida, é matar as pessoas, e quero dizer para que agente continue na resistência, continue vigilante, não tenhamos medo doque  vai vir pela frente, do que está posto aí, seguiremos lutando e defendendo o que é nosso".

 

*Vandria Borari, Ceramista, Bacharel em Direito e Comunicadora indígena.


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