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A CONSAGRAÇÃO DA MEMÓRIA OU A GENTRIFICAÇÃO DO ESQUECIMENTO

A CONSAGRAÇÃO DA MEMÓRIA OU A GENTRIFICAÇÃO DO ESQUECIMENTO
Jose Roberto Aguilar
ago. 19 - 5 min de leitura
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-- artigo conjunto com o professor Jackson Rego Matos*

Dia 21 de agosto, a partir das 16 horas na praça do CAT em Alter do Chão, acontecerá a reinauguração e a consagração do barco Souza, homenageando o capitão Simão e a sua esposa Dona Olívia. Capitão Simão conduziu quase toda população da vila de um lugar para o outro, trazendo peixes para deliciar o paladar e matar a fome de muitos da vila, colecionando muitas histórias que são a essência deste povo. Dona Olívia alfabetizou e ensinou os moradores desta vila por quarenta ou mais anos. Não existe ninguém com menos de 65 anos que não tenha frequentado suas aulas desta incrível pedagoga.

Este casal de octagenários é uma parte da memória viva da vila de Alter do Chão. As raízes culturais são a razão do empoderamento e noção de pertencimento local. Era comum as pessoas ficarem esperando ouvir o barulho da máquina do Souza ecoar na Vila para irem até a beira para receberem os parentes ou encomendas trazidas pelo Capitão.

A gentrificação, que é o significado da invasão dos mais ricos, comprando casas e construindo prédios de muitos andares, traz este processo de desarticulação dos laços familiares que existia no centro da Vila, afastando muitos moradores locais para áreas periféricas, o que é o motivo principal do esquecimento das histórias e do contar a  vida e sua própria cultura. Quem se importa com a Festa do Çairé? A onde foi parar o símbolo do Çairé que marcou durante anos a entrada da vila? Para onde irão as canoas, com toda essa movimentação de “balsinhas, jet sky e grandes iates” que poluem nossas praias e causam imensos problemas as brancas areais de Alter.

A HISTÓRIA E IDEALIZAÇÃO DO BARCO SOUZA SE TRANSFORMANDO NO BARCO VOADOR

No final de 2012, o artista plástico José Roberto Aguilar viu um barco abandonado na praia do Cajueiro, perguntou de quem era e comprou do Sr. Simão. Pediu ajuda ao Conselho Comunitário de Alter do Chão para levar o barco para o CAT para fazer uma escultura em homenagem aos habitantes da Vila. Concedida a permissão, calafetamos o barco pra navegá-lo até o Cat mas ele afundou. Depois de muitas peripécias ele foi transportado com ajuda especializada e pintado com características artísticas, adquirindo além do nome Souza o nome de O BARCO VOADOR, com os nomes dos velhos viajantes da vila escritos no casco. Ele ficou sendo o sinônimo da defesa do rio Tapajós e outros contra as hidroelétricas que os poluíam. O Barco Voador voava a noite contra elas. Mestre Chico Malta, o gênio da Carimbó local compões uma música chamado “Barco Voador” e a escultura foi inaugurada com uma grande festa de carimbó em janeiro de 2013 com a presença na época do Movimento de Roda de Curimbó.

CONSAGRAÇÃO DO BARCO

Convidamos para cerimônia ecumênica de sacralização do barco, autoridades religiosas e espirituais, assim como moradores, professores, artistas, intelectuais e populares locais como:

  1. Osmar Vieira, Juiz do Çairé para benção católica autorizada pela paróquia local;
  2. Benção protestante por um pastor evangélico;
  3. Benção indígena  por realizada por um pajé;
  4. Benção de representante da cultura Afro-descendentes;
  5. Benção do judaísmo realizada por Ohad Avisar;
  6. Representante acadêmico e dos Conselhos representativos.

Mais do que 150 nomes dos antigos moradores que estão escrito no casco do barco,  quando eles são lembrados,  a Luz que brilha mais forte é  proteção que os seus familiares e conhecidos darão a este monumento inclusivo e social, com a consagração dos guardiões da memória de Alter e dos Guardiões do Barco, representado pelo seu Lalá. Venha fazer seu agradecimento, depositando uma flor no barco como símbolo de resistência a gentrificação, aos prédios e a desorganização sócio-cultural que estamos vendo não só em Alter mas em todo o Brasil.

Este é um movimento de toda a vila e de todos os movimentos coletivos, sem distinção. Trabalharam com afinco  para a realização deste evento: Professor Jackson Tapajós, o conselheiro Gabriel Buchalli, os artistas Chico Malta, José Roberto Aguilar, Alexandre, e Lucas Munduruku, Dorinei Mingote, Lalá e José Carlos Zampietro. Enumerá-los todos seria impossível, mas venha e represente seu movimento coletivo em prol de uma Alter mais humanizada.

Programação:

  • 21 DE AGOSTO, SÁBADO, NA PRAÇA DO CAT
  • 16h: chegada do Capitão Simão e Dona Olívia na praça
  • 16h30: Discursos sobre as realizações do casal em prol de Alter do Chão
  • 17h: Consagração do barco (palavra aberta aos convidados)
  • 17h30: Chico Malta canta a música O BARCO VOADOR + músicos convidados
  • 18h: BOLO DE ANIVERSÁRIO PARA DONA OLÍVIA

 

Apoio: Projeto Luz e Ação da Amazônia

*Jackson Rego Matos é Professor Titular da Ufopa; Engenheiro Florestal, Mestre em Ciências Florestais, INPA, 1993. Doutor em Políticas Públicas e Meio Ambiente, CDS/Unb, 2003. Professor do Instituto de Biodiversidade e Floresta. É membro da Alas, IHGTap, Folião do Sairé.


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