Pinduca nasceu Aurino Quirino, em Igarapé-Mirim, a mesma terra de Dona Onete. Os dois tem 80 anos e continuam espalhando carimbó pelo Brasil e pelo mundo. Leia abaixo entrevista completa com o rei do carimbó!
Repórter-boto Diogo Borges Carneiro entrevistando Pinduca | Foto de Claudio Chena
Você é o rei do carimbo...
PINDUCA: Sou
E quais são suas referências, quando você começou, já tinha alguém que tocava e te estimulava?
PINDUCA: Não, o carimbó já existia, eu vou lhe dizer o que o pessoal da imprensa no nordeste do brasil começou a falar pra mim que eu era o "redescobridor" do carimbó, porque no início que eu comecei é... falavam que eu era o criador do carimbó, não! o carimbo já existia, mas era menosprezado, ninguém aceitava, a sociedade não aceitava, a sociedade recusava carimbo. Então eu vim com um carimbo mais moderno, eu fui muito criticado por isso, mas hoje em dia tá todo muito na modernização do carimbó, porque fui eu que fiz ele andar, (ele) subiu, cresceu, porque eu modernizei e já resultado dum trabalho que eu já fiz a quarenta anos ou mais.
Mas nessa época quem você tinha esse...
PINDUCA: Nada, ninguém, eu não me inspirei em cantor nenhum, eu sou o Pinduca, eu sou o Pinduca, tudo que você vê eu mesmo inventei, eu criei, eu sou criador.
Há três anos o carimbó é patrimônio cultural brasileiro. Como você vê essa questão?
PINDUCA: Pois é, pra mim isso é bom porque é uma espécie de coroa, é uma coroação, um coroamento, porque é um trabalho que eu tive a coragem de desenvolver enfrentando as críticas, as vaias que eu levei e hoje em dia tai o resultado: deu certo, coloquei paletó, gravata, cortei barba e bigode do carimbó, fiz um carimbo novo e todo mundo caiu no... vem caindo devagar, não foi bem assim. Hoje em dia você vê grupos de jovens tocando e cantando carimbó, e o carimbó antes, antigamente quando eu comecei era música de velho, pra velho... até músico tinha que ser velho, pra dançar tinha que ser velho, era tudo assim, eu era novo, comecei e (disse) não, eu vou no moderno, vamo no moderno, vamo modernizar. Me vaiaram, me jogaram copo de cerveja na cara, e houve porrada (risos), foi uma luta viu, mas eu venci, eu sou um vencendor.
Você é feliz, você se considera feliz?
PINDUCA: muito, muito feliz mesmo... aqui, aqui no Çairé, né no sairódromo nós fazíamos a festa do Çairé lá na beira do rio, mas ai um ano decidiram (vir) pra cá com muita crítica, muita briga com prefeito, a comunidade não queria mas o prefeito tava certo. Aí eu fui convidado pra participar nesse ano (da mudança de local), eu anunciei aqui no meu show: “eu vou fazer uma previsão aqui de três anos pra essa festa do Çairé estar igual ao boi de Parintins” e foi justamente com eu imaginei.
E já soma quantas participações no Çaire?
PINDUCA: Eu não sei, foram muitas, são muitas porque eu não presto muita atenção nas coisas que eu vou fazendo. Eu vou fazendo, eu vou fazendo, vai acontecendo e não tenho tempo de tá me preocupando com as datas, né, eu sou inimigo de gravar data, não gravo data não.
Tá certo!
PINDUCA: Mas no Çaire eu já participo há muitos anos, esse aqui é meu colega (aponta para David Brasil), ele sabe disso, que ele é daqui, esse é o Pinduca de Santarém, né, o nome dele é Pinduca mesmo só que nos destacamos, eu sou o Pinduca e ele é o Pinduca de Santarém.
Por que esse apelido Pinduca?
PINDUCA: Quando eu era garoto, tinha uma revista, uma revistinha aquela do Tio Patinhas, mas tinha uma do Pinduca, Pinduquinha... eu era menino eu lia, um dia eu fui colocar na aba do meu chapéu pra dançar quadrilha um nome engraçado, assim na aba do chapéu, eu coloquei “Pinduca” lá no meu chapéu, tudo mundo me passou a chamar de Pinduca, e ai não teve jeito, virou batismo, nem meu nome não é criação minha não, já existia já.
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